Hidroanel de São Paulo: o ambicioso projeto urbanístico que nunca saiu do papel

Objetivo é integrar os rios Tietê e Pinheiros, além das represas Billings, Taiaçupeba e Guarapiranga, formando uma rede de 170 km de hidrovias.

Vinícius Andrade

redacao@guarulhostododia.com.br

Projeção de como ficaria o canal Pinheiros, na altura da raia olímpica da USP, com o Hidroanel (Foto: Bhakta Krpa

Publicado em 02/02/2025 às 20:31 / Leia em 8 minutos

O volume acima da média de chuvas de janeiro evidencia como a região metropolitana de São Paulo enfrenta desafios complexos em relação ao controle de enchentes. Um projeto ambicioso, o Hidroanel Metropolitano, surge como uma alternativa interessante para tratar desse problema e também da questão da mobilidade urbana. A iniciativa busca transformar os rios e represas da região em vias navegáveis para transporte de pessoas e cargas, além de contribuir para o controle de cheias e o desenvolvimento urbano sustentável.

O projeto do Hidroanel pretende integrar os rios Tietê e Pinheiros, além das represas Billings, Taiaçupeba e Guarapiranga, formando uma rede de 170 km de hidrovias. A ideia é utilizar embarcações para transportar passageiros e cargas, oferecendo uma nova opção de deslocamento na região metropolitana.

A Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo (FAU-USP) iniciou estudos de viabilidade técnica, econômica e ambiental em 2009. O Grupo Metrópole Fluvial, do Laboratório de Projeto da FAU-USP, coordenou a articulação arquitetônica e urbanística do projeto. A proposta inicial, com um custo estimado de R$ 2 bilhões, agora está avaliada em cerca de R$ 8 bilhões.

A má notícia é que a ideia completa nunca saiu do papel. Se as obras tivessem começado em 2012, a conclusão total era prevista para 2040. No entanto, apenas ações pontuais foram realizadas ao longo dos últimos anos, o que não permite a revolução urbanística necessária para a Grande São Paulo.

Nessa reportagem, o Guarulhos Todo Dia reúne informações sobre o Hidroanel Metropolitano e explica o ambicioso projeto.

Redução de Enchentes

Um dos principais benefícios do Hidroanel é o seu potencial para mitigar enchentes na região metropolitana. Segundo o professor Alexandre Delijaicov, coordenador do Grupo Metrópole Fluvial, o sistema hidroviário ajudaria no controle da vazão dos rios, oferecendo uma alternativa aos polêmicos piscinões. Ao criar um sistema de canais de navegação e drenagem, o projeto permite um melhor escoamento da água durante as fortes chuvas.

A proposta inclui a construção de um canal central de navegação e drenagem, além de outros dois canais laterais com túneis para esgoto. Esta estrutura é essencial para evitar o acúmulo de água e reduzir os impactos das inundações. Além disso, o projeto prevê a criação de Triportos, que funcionariam como plantas industriais para o processamento de resíduos, contribuindo para a limpeza dos rios e a gestão dos resíduos urbanos.

Proposta de Triporto de Carapicuíba, que faria parte do Hidroanel de São Paulo
Proposta de Triporto de Carapicuíba, que faria parte do Hidroanel (Imagem: Grupo Metrópole Fluvial-USP)

Mobilidade Urbana e Integração

O Hidroanel Metropolitano também pretende aprimorar a mobilidade urbana, oferecendo uma alternativa de transporte mais eficiente e agradável. O Aquático-SP, que foi inaugurado em maio de 2024 na zona sul da capital como primeiro transporte hidroviário público de São Paulo, é um exemplo. As embarcações interligam os terminais Cantinho do Céu e o Parque Mar Paulista Bruno Covas, num percurso de 5,6 quilômetros, pela Represa Billings, realizado em cerca de 17 minutos. De ônibus, a viagem dura cerca de 1 hora e 20 minutos.

O sistema é integrado com o transporte por ônibus, com a utilização do Bilhete Único, e conta com duas novas linhas de ônibus elétricos, uma ligando o bairro de Cantinho do Céu ao novo terminal hidroviário e a outra ligando o Terminal Santo Amaro ao Aquático-SP em Mar Paulista.

Percurso do Aquático-SP, na zona sul da capital, e impacto que teria o Hidroanel para a mobilidade urbana
Trajeto do Aquático-SP (Imagem: Reprodução/TV Globo)

O projeto do Hidroanel, porém, é bem mais ambicioso e considera a criação de 24 portos, o que facilitaria o acesso à rede hidroviária, com o uso de escadas rolantes e elevadores para superar os desníveis causados pelas eclusas e barragens, melhorando a acessibilidade. A extensão do projeto abrange seis trechos distintos, abrangendo o Rio Tietê, o Rio Pinheiros, a Represa Billings e outros corpos d’água.

Custos e Cronograma

De acordo com reportagem publicada pelo Estadão em 2022, o custo estimado para a implantação do Hidroanel naquele ano já era de aproximadamente R$ 8 bilhões. O valor inclui a construção de eclusas, canais, portos e outras infraestruturas necessárias para a operação do sistema hidroviário. O projeto prevê também a criação de áreas de lazer, parques nas margens dos rios e estruturas de combate a enchentes, o que eleva os custos, mas também aumenta os benefícios.

O cronograma inicial do projeto previa a conclusão em 2040, com etapas a partir de 2012. Alexandre Delijaicov, professor da FAU-USP e coordenador do Grupo Metrópole Fluvial, ressalta a importância de integrar o sistema hidroviário ao planejamento urbano, oferecendo alternativas de mobilidade para a região metropolitana. Ele destaca que o projeto, além de melhorar a mobilidade, tem o potencial de gerar renda, empregos e promover a educação ambiental, incentivando o respeito pelas águas urbanas.

Mapa do Hidroanel de São Paulo
Mapa do Hidroanel ((Imagem: Grupo Metrópole Fluvial-USP)

PlanHidro SP

Na cidade de São Paulo, o Aquático-SP pode representar o início de um projeto maior. A prefeitura da capital está desenvolvendo o Plano Municipal Hidroviário. O PlanHidro SP contempla as sete principais hidrovias urbanas da cidade: a do Reservatório Billings, a do Reservatório Guarapiranga, a do Canal Superior do Rio Pinheiros, a do Canal Inferior do Rio Pinheiros, a do Canal Central do Rio Tietê, a do Canal Leste do Rio Tietê e a dos Canais do Rio Tamanduateí.

O Plano propõe justamente utilizar 180 km navegáveis de hidrovias para reduzir a dependência do transporte rodoviário e melhorar a gestão de resíduos, contribuindo para a preservação da qualidade das águas.

As hidrovias em São Paulo seriam alternativas não apenas para o transporte para passageiros, mas também de cargas (como resíduos). A ideia de realizar o transporte fluvial de cargas e resíduos busca assegurar uma logística urbana mais sustentável e eficiente. 60 barcos urbanos de carga poderiam substituir até 600 caminhões nas ruas da cidade.

IntegraTietê

Um programa em andamento atualmente no estado é o IntegraTietê, iniciativa lançada em 2023 que prevê uma série de medidas de curto, médio e longo prazo em prol do maior rio do Estado. A previsão atual é que, até 2026, sejam investidos R$ 15,3 bilhões, totalizando, até 2029, mais de R$ 23,5 bilhões, na expansão e melhorias do sistema de saneamento básico, desassoreamento, gestão de pôlderes, melhorias no monitoramento da qualidade da água, recuperação de fauna e flora, entre outras medidas.

Em outubro, por exemplo, o Governo de São Paulo, por meio da Secretaria de Meio Ambiente, Infraestrutura e Logística do Estado de São Paulo (Semil), divulgou que havia investido, desde o início de 2023, R$ 116,3 milhões para retirar lixo flutuante do rio Pinheiros. Foram coletados 64,5 mil toneladas (64,5 milhões de quilos). Os dados são do Lixômetro, painel que está instalado às margens do rio.

Lixômetro do rio de Pinheiros, na Marginal, em SP
Lixômetro da Marginal Pinheiros (Foto: Semil-SP/Divulgação)

A despoluição dos rios não é uma condição para a viabilidade das hidrovias ou do Hidroanel, mas a navegação pode influenciar positivamente a conscientização sobre a importância de rios limpos. A construção de um sistema de transporte hidroviário pode ser um catalisador para a melhoria da qualidade da água e para a transformação das margens dos rios em espaços de convivência.

Hidroanel é utopia?

Apesar dos benefícios, a implementação do Hidroanel enfrenta desafios significativos. A falta de investimento público e a necessidade de um planejamento integrado do estado com os municípios são obstáculos a serem superados.

O arquiteto e urbanista Alex Sartori, criador de conteúdo no Instagram e autor do canal “De que são feitas as cidades?” no YouTube, publicou um vídeo na última semana defendendo a viabilidade do projeto. “Dos 170 km de canais previstos, 89 km já existem e precisariam de adequações. É o trecho que vai da Barragem da Penha, no rio Tietê, passa pelo Pinheiros inteirinho e inclui a represa Billings. Nesse trecho já existem quatro barragens com três eclusas [aqueles elevadores de barco]”, diz.

Ele explica que uma das ideias do projeto é conectar todas as represas da cidade, enviando água de uma para outra quando necessário. “Existem usinas elevatórias que podem inverter o fluxo do Rio Pinheiros e puxar a água do Rio Tietê até a Billings. Isso também poderia ajudar a equilibrar o nível das represas em épocas de seca”, argumenta.

Engavetado há 15 anos, o projeto do Hidroanel poderia marcar uma nova era para a mobilidade urbana e a gestão ambiental na região metropolitana de São Paulo, oferecendo uma solução integrada e sustentável. “Hoje, quinze anos depois e com enchentes cada vez piores, a gente percebe que o Hidroanel não é apenas viável, mas extremamente necessário para a cidade. O Hidroanel é muito mais do que um sonho ou uma utopia. É parte de uma solução que várias cidades do mundo já estão adotando e é super importante para o futuro da nossa cidade”, defende Sartori.

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