Abandonada desde o início da década de 1990 e sem nunca ter entrado em funcionamento, a construção que seria usada para funcionar como um shopping na Vila Fátima é um elefante branco na avenida Otávio Braga de Mesquita. O empreendimento privado pertence ao Grupo Sá Cavalcante, que confirmou ao Guarulhos Todo Dia que ainda tem planos de abrir um novo shopping aqui na cidade. No entanto, o projeto está há anos parado e o terreno de 40 mil metros quadrados onde deveria funcionar o centro de compras continua sem uso.
No último debate entre os candidatos à Prefeitura de Guarulhos, realizado pelo g1 no dia 27 de setembro, Waldomiro Ramos (PSB) trouxe o assunto à tona novamente. O ex-vereador disse que, se eleito prefeito, tomaria aquele imóvel do setor privado e construiria ali um Centro Administrativo.
“Eu espero que, se você for eleito, candidato Elói, tome uma atitude com esse imóvel enorme que está atravancando o processo de avanço daquela região, da Vila Fátima, Vila Flórida e Vila Barros. Ele está atravancando o processo daquele bairro. Portanto, eu faço esse apelo. Se for eleito prefeito, faça o que eu queria fazer e o que eu vou fazer quando for prefeito: tomar aquele imóvel para a prefeitura e transformar em um parque administrativo”, pediu Waldomiro Ramos.
Elói Pietá (Solidariedade), líder nas pesquisas de intenção de voto em Guarulhos, concordou com a proposta do adversário nas eleições 2024, mas não se aprofundou no tema. “A sua proposta é boa. Faremos isso para melhorar toda aquela região”, se limitou a dizer o ex-prefeito, que mudou de assunto na sequência.
Nossa reportagem consultou os planos de governo de todos os candidatos a prefeito de Guarulhos e em nenhum deles consta algum projeto referente ao shopping abandonado da Vila Fátima. Nem mesmo no de Waldomiro Ramos.
O plano de Jorge Wilson – Xerife do Consumidor (Republicanos) fala em realizar uma parceria com a iniciativa privada para construir o “Centro Administrativo Municipal”, que abrigaria todas as secretarias em um único local. No entanto, esse local não é especificado no documento registrado na Justiça Eleitoral. Os outros cinco candidatos não prometeram a criação de um centro administrativo.
Centro administrativo de Guarulhos na Vila Fátima?
Não é a primeira vez que um político guarulhense tem a ideia de transformar o shopping abandonado da Vila Fátima em um centro administrativo municipal. Em 2017, ainda no primeiro ano da gestão Guti, o então vereador Eduardo Carneiro, que era filiado ao PSB naquele ano, mesmo partido de Waldomiro Ramos atualmente, indicou essa possibilidade ao Poder Executivo.
Na ocasião, o parlamentar informou que a dívida de IPTU já superava o valor do imóvel. Além disso, argumentou que centralizar as secretarias e coordenadorias facilitaria o acesso da população, desenvolveria mais o bairro e economizaria o gasto público com aluguéis de imóveis usados para órgãos municipais.
Em 2018, a Prefeitura de Guarulhos enviou uma nota ao site GuarulhosWeb informando que um grupo técnico de representantes das secretarias de Governo, Fazenda, Justiça, Meio Ambiente, Transportes e Trânsito, Desenvolvimento Urbano, Obras e Serviços Públicos estudou a sugestão e constatou que era inviável. Mas não houve um aprofundamento público justificando a recusa.
A ideia de ter um Centro Administrativo Municipal é boa, mas pode ser cara. O governo estadual de São Paulo, por exemplo, avançou com um projeto de transferir o poder estadual do isolado Palácio dos Bandeirantes, no Morumbi, para o centro de São Paulo, ao lado da Praça Princesa Isabel, nos Campos Elíseos. Será uma esplanada de edifícios para centralizar todas as secretarias, fundações e autarquias estaduais. O custo estimado é de R$ 4 bilhões.
Fato é que já fizeram algumas tentativas de dar uso ao shopping abandonado em Guarulhos.
Em 2009, o Grupo Sá Cavalcante chegou a acreditar que o shopping viraria realidade, pois recebeu o sinal verde da Prefeitura, na época comandada por Sebastião Almeida, para retomar as obras do “Shopping Plaza Guarulhos”.
De acordo com o entendimento do Poder Executivo na ocasião, o empreendimento respeitava a legislação ambiental vigente ao final da década de 1980, quando começou a ser construído. Porém, depois a lei foi alterada e, com isso, a obra ficou ultrapassada do ponto de vista ambiental.
Marcos Antônio Carlos, então diretor da Secretaria do Meio Ambiente, entendeu que não dava para retroagir a lei e prejudicar os negócios que o shopping geraria. A prefeitura exigiu contrapartidas para permitir a retomada da obra.
No entanto, após a prefeitura ter concedido os alvarás necessários, o caso foi parar na Justiça. No início de 2010, a 2ª Vara da Fazenda Pública de Guarulhos concedeu liminar, atendendo a um pedido de grupos da oposição do prefeito Almeida, para suspender os trabalhos no shopping. Desde então, tudo continua parado.
Em abril, o Guarulhos Todo Dia publicou um vídeo no YouTube mostrando como está o shopping abandonado da Vila Fátima: