Uma construção que conta parte da história de Guarulhos sofre com situação de abandono há décadas. Declarada área de utilidade pública em 2004 e transformada em unidade de conservação ambiental em 2008, a Casa da Candinha nunca foi tratada como deveria. Está com parte da estrutura literalmente caindo aos pedaços. Agora, em julho de 2024, a Prefeitura de Guarulhos anunciou que usará parte de uma verba federal liberada por meio da Política Nacional Aldir Blanc para reformar o imóvel. Segundo o Executivo municipal, antes não havia dinheiro para a obra por causa de dívidas acumuladas na gestão anterior.
A Casa da Candinha fica no bairro do Bananal, a cerca de 4 quilômetros de distância do Aeroporto de Guarulhos e a 20 quilômetros do centro da cidade. Erguida entre 1800 e 1850, trata-se de um dos poucos exemplares da arquitetura colonial oitocentista na Grande São Paulo.
A lei municipal 6.475, de 2008, criou o Parque Natural Municipal da Cultura Negra Sítio da Candinha. Mas esse local nunca esteve à disposição da população como um instrumento de reconhecimento da história da cidade.
A história da Casa da Candinha
De acordo com o historiador Elmi El Hage Omar, autor do livro Casa da Candinha – Ruptura e Metamorfose, o terreno já mantinha escravos para a exploração mineral na região em 1597. “Há registros de que essa área foi foco de atividade mineradora 100 anos antes do início da exploração em Minas Gerais”, disse o especialista, em entrevista publicada pelo jornal O Estado de S. Paulo em 2012.
A construção que existe até hoje e tem cerca de 200 anos não foi a primeira sede da fazenda. A primeira casa-sede era chamada Casa de Pedra (1717). “A Fazenda Bananal era enorme, ocupava o equivalente a 10% do atual município de Guarulhos”, comentou Elmi El Hage Omar.
No dia 1º de dezembro de 2015, a Prefeitura de Guarulhos firmou um Termo de Cooperação Técnica com o Escritório-modelo de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Guarulhos (UNG), no qual envolveram docentes e discentes na elaboração do projeto de restauro. Em 2018, o grupo apresentou um inventário da Casa da Candinha.
Segundo o documento, a casa em taipa-de-pilão tem 262 metros quadrados e a mesma área no porão; Trata-se da casa-sede da Fazenda Bananal, propriedade adquirida por Amador Bueno da Veiga, em 1717, por meio de carta de sesmaria (documentos passados pelas autoridades para doar terras) concedida por D. Pedro de Almeida, “governante da capitania de São Paulo e Minas de Ouro entre 1709 e 1720”.
De acordo historiadores, a descrição das terras remete à porção do território guarulhense entre a zona leste da capital paulista e Mairiporã, correspondendo aos bairros de Tanque Grande, Bananal, Invernada, Taboão, Vila Barros, Cecap e Várzea do Palácio, em Guarulhos.
“A sede da fazenda, edificação mais sólida e perene do que as demais estruturas que serviam de suporte à vida rural, serviu de moradia até os primeiros anos da década de 2000. Além da casa, pouco se preservou das demais edificações originais. Existe, entretanto, um remanescente de parede de taipa-de-pilão (foto), com cerca de 12 m de comprimento e 4 de altura, a cerca de 30 metros ao norte da casa, figura 10, indicativo de uma edificação que poderia ter servido de estribaria ou senzala. Fato é que os exemplares das casas-grandes, de modo geral, restam sem seus equipamentos de apoio preservados (senzalas, corpo de serviços, oficinas), por terem sido edificados com materiais mais ordinários, ou por não terem interesse em sua conservação, tendo em vista as mudanças econômicas, sociais e culturais no país”.
Trecho do inventário da Casa da Candinha
A promessa de reforma
De acordo com a Prefeitura de Guarulhos, as obras no espaço acontecerão com as verbas recebidas por meio da Política Nacional Aldir Blanc, que também serão destinadas à digitalização e à disponibilização do acervo do Arquivo Histórico, a formações culturais e à preservação patrimonial.
Ao todo, a cidade recebeu R$ 7.828.900,46.
Para receber os recursos da Política Nacional Aldir Blanc, a Secretaria de Cultura de Guarulhos manifestou o interesse por meio do cadastro do Plano Anual de Aplicação de Recursos, construído em conjunto com a sociedade civil e o Conselho Municipal de Política Cultural.
A prefeitura não informou quando a obra vai começar nem passou uma previsão de entrega.
O site da AAPAH (Associação Amigos do Patrimônio e Arquivo Histórico) tem mais informações e fotos sobre a Casa da Candinha.
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