Prestes a terminar o seu segundo mandato como prefeito de Guarulhos, Gustavo Henric Costa, o Guti, responde a uma ação do Ministério Público de São Paulo que trata sobre um voto que ele deu quando vereador, em 2010. Além de Guti, o processo inclui o ex-prefeito Sebastião Almeida, servidores públicos, empresários e ex-vereadores que autorizaram o destombamento do Casarão Saraceni como patrimônio histórico do município –o imóvel ficava no hoje estacionamento abandonado ao lado do Internacional Shopping.
Nesta segunda-feira (11), o atual prefeito de Guarulhos publicou um vídeo nas redes sociais e afirmou ter recebido “com indignação” a decisão do desembargador Magalhães Coelho, que acatou um recurso do Ministério Público de São Paulo e condenou os envolvidos na decisão do destombamento a penas que vão de pagamentos de multas a suspensão dos direitos políticos de três a cinco anos. No entanto, o caso precisa transitar em julgado para a sentença ser cumprida –ou seja, todos os envolvidos ainda continuam elegíveis a cargos públicos.
“Ninguém está inelegível, pois ainda estamos no curso do devido processo legal. Não tem nada transitado em julgado ainda, cabem diversos recursos para que a gente demonstre a realidade dos fatos, assim como foi feito na primeira instância, em que o Judiciário entendeu que a gente votou a favor de Guarulhos”, começou o prefeito.
O Casarão Saraceni ficava no antigo estacionamento que pertencia ao Internacional Shopping. Tombada pelo Conselho de Patrimônio Histórico de Guarulhos em 2000, a construção era considerada um símbolo do início do movimento de industrialização do município, além de ser um dos raros imóveis que contavam a história dos imigrantes italianos que se tornaram guarulhenses. Em 1919, virou casa do industrial e ex-prefeito Giuseppe Saraceni –em 1932, chegou a virar refúgio durante a Revolução Constitucionalista. Em 1973, a então Chácara Saraceni foi vendida à Olivetti.
Em 2010, porém, a Câmara Municipal de Guarulhos e a Prefeitura, então comandada por Sebastião Almeida, autorizaram o destombamento do imóvel. O destombamento foi aprovado pelo Conselho do Patrimônio Histórico tendo como base um parecer técnico de Carlos Augusto Mattei Faggin, professor titular da FAU–USP e então conselheiro do Condephaat (Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico, Arqueológico, Artístico e Turístico do Estado).
No parecer técnico sobre Casarão Saraceni, Faggin afirma que “nada justifica a permanência desta obra. Podemos ficar sem o Casarão que não chega a ser relevante e nada tem de interessante”.
Após a autorização dos órgãos públicos, o imóvel histórico foi demolido de vez em novembro de 2010, a pedido da empresa controlada pela família Veronezi, proprietária do terreno, que pretendia ampliar o estacionamento do Internacional Shopping.
“Na verdade, o voto do parlamentar é inviolável. Ele pode votar da maneira que ele achar conveniente. É sim ou não. No caso lá de 2010, quando eu era vereador, eu votei pelo destombamento de um imóvel aqui em Guarulhos, a favor do progresso, da geração de emprego e renda. Votaria assim de novo hoje, se o caso se repetisse, porque eu tenho as minhas convicções, acredito nelas e voto de acordo com o que eu penso”.
Guti, prefeito de Guarulhos, sobre ação judicial do Casarão Saraceni
O atual prefeito de Guarulhos classifica a decisão da Justiça paulista como “muito perigosa” e vê o processo como uma forma de interferir nas eleições de 2026, quando estarão em jogo os cargos de presidente da República, governador, senador, deputado federal e deputado estadual.
“O Legislativo tem que ter a sua autonomia para fazer as votações da maneira que acredita. Quero deixar claro que a gente segue firme, mas infelizmente alguns querem tirar ‘no tapetão’ a possibilidade de concorrermos já nas próximas eleições [em 2026], para defender Guarulhos em outros planos. Então, a gente vai trabalhar duro para que a gente consiga representar bem a nossa cidade”, finalizou Guti.
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