Free flow na Dutra: É isso o que você precisa saber sobre as tags de pagamento de pedágio

Reportagem do Guarulhos Todo Dia entrevista Humberto Filho, da Associação Brasileira das Empresas de Pagamento Automático para Mobilidade.

Vinícius Andrade

redacao@guarulhostododia.com.br

Foto: Bueno Drone/YouTube

Publicado em 09/02/2025 às 19:25 / Leia em 14 minutos

A nova estrutura da Via Dutra está prevista para ser entregue em abril, com a conclusão das obras que são realizadas pela CCR RioSP desde 2023. Com a liberação das pistas, dos viadutos, da iluminação e das melhorias realizadas pela concessionária, seguindo obrigações de contrato assinado junto ao governo federal em 2022, também terá início a operação do pedágio free flow nas pistas expressas, no trecho da rodovia que corta Guarulhos, entre Arujá (km 205) e São Paulo (km 230). O sistema de cobrança tem gerado debates e muitas dúvidas nas últimas semanas, entre elas a questão das tags de pagamentos. Quais são as diferenças entre elas? Quais as vantagens? Tem tag de graça? Tem desconto no free flow?

Para explicar essa parte importante em relação ao free flow na Dutra, o Guarulhos Todo Dia fez uma entrevista exclusiva com Humberto Filho, coordenador do Comitê Jurídico Regulatório da Abepam e Head de Relações Institucionais do Sem Parar. Durante a conversa com a nossa reportagem, o executivo falou em nome da Abepam, que é a Associação Brasileira das Empresas de Pagamento Automático para Mobilidade.

“Esse nome grande, complexo, é para dizer que nós somos a entidade que representa todas as cinco empresas hoje habilitadas e homologadas pela ANTT [Agência Nacional de Transportes Terrestres] e pelas outras agências estaduais para operar o sistema de pedágio automático. Vou citá-las aqui, acho importante, que são todas: o Sem Parar, a Veloe, a ConectCar, a Move Mais e a Greenpass Taggy, que é uma empresa que faz tags white label, ou seja, faz tag para terceiros operarem”, diz.

Existem mais de 12 milhões de tags de pagamento operando no Brasil, segundo dados de 2023. A expectativa é que a implementação do free flow, não apenas na Via Dutra, mas em outras importantes rodovias estaduais e federais, faça o mercado crescer nos próximos meses. De acordo com projeções do setor, até o final de 2026 cerca de 20 milhões de veículos já estarão utilizando o sistema de pagamento automático, o que corresponderia a mais de 25% da frota de automóveis que podem usar tag.

“Hoje, 60% do pedágio pago no país já é pago de forma automática, ou seja, as pessoas pagam via, na maioria dos casos, daquela praça de pedágio tradicional com pista automática, as pessoas acabam optando pela pista automática. Em São Paulo esse número é ainda maior, a gente calcula que hoje é um pouco mais de 70% do pedágio já é pago de forma automática. Existem rodovias específicas, como a Autoban [Rodovia Bandeirantes-Anhanguera], que chegam a ter mais de 80% do pagamento feito de forma automática via tag, via uma operadora associada da Abepam”, explica Humberto Filho.

Passagem de pedágio tradicional com cobrança automática para quem tem tag de pagamento
(Foto: Divulgação/Abepam)

O que você precisa saber sobre as tags de pagamento automático de pedágio

Abaixo, confira as perguntas que o Guarulhos Todo Dia fez para a Abepam e veja as respostas de Humberto Filho, coordenador do Comitê Jurídico Regulatório da entidade. São informações que podem te ajudar a avaliar a possibilidade de ter ou não uma tag no seu veículo.

Guarulhos Todo Dia – Para quem nunca teve uma tag, o que o motorista deve procurar ao contratar esse serviço?

Humberto Filho (Abepam) – Basicamente comodidade. A tag é um sticker, é um instrumento de identificação do veículo, sempre vinculado à placa. E com a tag você pode fazer uma série de pagamentos sempre vinculados à questão veicular. Então a gente sempre tem que lembrar que além de pagar o pedágio, tanto numa cabine tradicional, naquela praça tradicional via pista automática, como num pórtico free flow, você pode usar em outros motivos de uso relevantes, que são muito importantes pros negócios das associadas da Abepam.

Benefícios
Por exemplo, estacionamento. Você consegue entrar e sair do estacionamento de forma automática, sem ter nenhum tipo de jornada, de intercorrência nesse meio de caminho. A gente também pode abastecer, e tem outros motivos de uso relevantes. Comprar lanche, em muitos casos, você pode passar em lanchonetes, afiliadas com alguma empresa de tag, comprar o lanche.

Uso no free flow
Mas quando você fala na jornada rodoviária, eu ressalto novamente que o principal ponto é a conveniência. A pessoa, por exemplo, que não tem tag no free flow, ela vai ter uma jornada muito complexa, e que muito provavelmente vai desembocar numa multa. Por quê? Porque ela vai passar, ela vai ter que voluntariamente, de iniciativa própria, acessar uma das plataformas disponibilizadas pela concessionária, um aplicativo, um site. Digitar a placa dela, descobrir quais são as passagens que ela teve, quanto que ela deve. Inserir um meio de pagamento ali, e liquidar aquele pagamento. Se ela não fizer isso em até 30 dias, ela será multada.

A pessoa tem prazo de 30 dias para fazer esse pagamento voluntário. Com a tag não tem nada disso. Continua sendo aquela jornada que o pessoal está acostumado, numa pista tradicional, numa praça tradicional. Ela passa, o pedágio vai ser lançado na fatura dela e no final do mês ela quita a fatura com a operadora que ela escolheu. E está tudo certo, sem problema e sem risco de multa, principalmente.

Humberto Filho, da Abepam e do Sem Parar, em entrevista sobre free flow na Via Dutra
Humberto Filho, da Abepam e do Sem Parar, em entrevista ao Guarulhos Todo Dia

Guarulhos Todo Dia – É possível ter uma tag totalmente gratuita ou depende muito da operadora do cartão de crédito e do banco?

Humberto Filho (Abepam) – A gente fez um levantamento recente na Abepam e hoje a gente tem mais de 25 tipos de planos diferentes dentro das associadas da Abepam, que incorporam os mais diversos perfis de usuários: desde aquele cara com renda mais baixa, que tem um carro mais antigo, até o cara ultra VIP ali, que quer um plano mais completo, quer gastar um pouco mais com isso e ter mais usabilidade e mais benefícios no uso daquela tag.

Existem dois tipos de plano, basicamente. Tem um plano com custo, que é o plano pós-pago, e um plano sem custo, sem mensalidade, que é o plano pré-pago. O plano pré-pago é um plano que não tem uma mensalidade. A pessoa faz uma carga ali, ela tem uma taxa de cobrança, geralmente, por essa taxa, em alguns casos sim, outros não. E o pós-pago é aquele plano tradicional, como se fosse uma conta de telefone. Ela vai ter uma mensalidade, vai ter outros benefícios, vai pagar no final do mês.

Em muitos casos, todas as associadas da Abepam têm algum tipo de convênio, algum tipo de parceria, principalmente com instituição bancária, que fornecem tags gratuitos para os usuários da rodovia. Geralmente, quando o cara tem um cartão, ele vincula essa tag, a tag acaba sendo um benefício desse cartão, ele pode usar de forma gratuita, sem nenhum tipo de mensalidade também.

Guarulhos Todo Dia – Então a pessoa que está com o CPF negativado/nome sujo consegue ter uma tag também?

Humberto Filho (Abepam) – Sim, consegue, desde que essa pessoa pegue uma tag pré-paga. Cada empresa tem seu critério de triagem e de régua de risco, mas a grande maioria, sim, fornece tag pré-paga para esse usuário. É como se fosse um telefone pré-pago. Ele bota uma carga e passa lá, mas quando a carga é zerada, a tag para de ter o benefício de passar na passagem automática.

Free Flow na Dutra com tag de pagamento

Guarulhos Todo Dia – E agora falando do free flow nas pistas expressas da Dutra. A gente sabe que o motorista tem 5% de desconto se ele usar a tag, é um desconto que já existe e já vem sendo divulgado. Mas existem outros descontos? Por exemplo: a pessoa que vai usar a expressa da Dutra todo dia, ele vai ter um desconto além desses 5% se tiver uma tag?

Humberto Filho (Abepam) – Sim. São dois descontos hoje e várias concessionárias no Brasil têm, a própria Dutra já tem para passagem nas praças de pedágio tradicionais. O que você falou primeiro [dos 5%] é o que a gente chama de desconto básico de tarifa, DBT. Ele vale para caminhão e carro de passeio normal. Ele é de 5% para todo mundo que usa tag.

Já o DUF é o desconto para o usuário frequente, o segundo tipo que você citou é para o usuário recorrente. É um desconto que é acumulativo e crescente. O cara que vai passando várias vezes ao longo do mês, ele vai tendo um desconto cada vez maior. No caso da Dutra, pode chegar até 73% no final do mês. Então ele paga 73% a menos do que pagaria se ele passasse todo dia e pagasse a tarifa cheia.

Mas para isso ele tem que passar todo dia, na mesma praça, mesmo sentido e no final do mês esse desconto zera, então ele vale do dia 1º ao dia 31 do mês, por exemplo. No outro mês, ele começa com zero e vai sendo crescente. O cálculo é um pouco complexo, mas para entender um pouquinho diferente, de forma simples, o cara começa com um desconto de 5%, depois vai 8%, depois vai 12%, quanto mais ele passa mais ele vai tendo desconto. É um desconto super relevante.

Pedágio free flow entrará em funcionamento na Dutra, em Guarulhos, a partir de 2025
(Foto: Bueno Drone/YouTube)

Guarulhos Todo Dia – Mas esse motorista tem que passar todos os dias no mesmo pórtico do free flow para esse desconto valer?

Humberto Filho (Abepam) – Não, é cumulativo. Se ele passar duas vezes no mês, ele pode passar dois dias seguidos ou um no dia 1º e outro no dia 31. Não importa. Ele vai ter o desconto relativo às duas passagens. Se ele passar três, só tem esse teto, esse limite de 30 passagens por mês, que é o teto. Depois disso, não tem mais desconto. Ele acumula lá e fica.

Guarulhos Todo Dia – Para o mercado de tags, qual vai ser o impacto da implementação do free flow na Dutra, considerando que lá passam 350 mil veículos por dia, nesse trecho entre São Paulo e Arujá?

Humberto Filho (Abepam) – Tem dois comentários a fazer. Primeiro que é um grande desafio. Desafio operacional para o sistema rodoviário, concedido como um todo. A própria concessionária [CCR RioSP] está debruçada sobre esse desafio. A gente vai ter algumas barreiras a se enfrentar, comunicar bem para a população desse novo sistema, informar para eles, como vocês estão fazendo aqui, de como isso funciona e qual é a dinâmica de pagamento.

Tarifa dinâmica no free flow da Dutra
Tem outra questão super relevante, que é a tarifa dinâmica, a tarifa vai variar ao longo do dia. A pista está muito cheia, a tarifa sobe. É igual no Chile. A pista está mais vazia, eles baixam a tarifa. Então isso também é um complicador até para a tarifação, para o sistema eletrônico que vai fazer isso.

A gente acha que isso [o free flow] vai trazer um mercado que hoje não existe para a gente [Abepam]. Muita gente vai acabar, apesar do nível de tagueamento em São Paulo já ser bem alto, como eu te falei no início. Aqui a maturidade para o sistema de pagamento automático, diferente de outros estados, já é bem grande.

Então a gente sabe que assim, já de largada, 65%, 70% das pessoas que vão passar no trecho, já vão passar com tag. Mas a gente enxerga nesse restante, nesses 25%, 30%, que vão ficar sem tag no início, um potencial muito grande para a gente criar novos produtos, novos planos e principalmente um plano de comunicação eficiente, cada um, cada associada [da Abepam] na sua autonomia, para conseguir capturar esse público e crescer no número de tags.

Guarulhos Todo Dia – Uma pergunta que as pessoas podem se fazer nos próximos meses. Se eu tiver um carro com tag e trafegar pela pista local da Dutra, onde não se cobra free flow, existe algum risco de o pórtico que está na pista expressa ler a minha tag por engano e fazer uma cobrança indevida? Qual é a distância que o veículo precisa estar para a leitura ser feita?

Humberto Filho (Abepam) – Dúvida bem pertinente. A possibilidade é nenhuma, por dois motivos. Primeiro que a antena já é calibrada e posicionada de uma forma, antena da praça… são duas antenas, na verdade, que conversam entre si. Uma antena ativa, que a gente chama, e uma antena passiva.

A antena do carro, aquela tag, nada mais é que uma antena passiva, ela fica lá parada. A outra antena que está na praça de pedágio, quem passar pode observar, é uma antena que fica soltando sinais, quando as duas cruzam, ali que é feito o match e ele sabe que está passando um automóvel com uma tag. Então a antena é calibrada de uma forma que só quando passa por baixo que aquilo é lido.

Além disso, existem sensores na pista que fazem um cruzamento também de dados. Vou dar um exemplo aqui para ficar mais didático. Se eu botar uma tag em um pombo e soltar e ele passar lá embaixo, a tag vai ser lida, mas aquilo não vai virar uma passagem reconhecida pela concessionária. Por quê? Porque não passou um bloco de metal na pista. Um carro, um automóvel. Entendeu?

Então tem essa questão da localização da antena, mais os sensores de pista. Então para isso ter algum tipo de problema, de intercorrência, que faça uma leitura paralela, a chance é de 0,001%. É quase impossível. Nada é impossível nesse mundo, mas estatisticamente é impossível. Não há possibilidade de uma pessoa passar perto e ter a tag lida e ser cobrada. Só quando ele passar por baixo mesmo.

Praça de pedágio da CCR RioSP na Via Dutra, em Arujá
Praça de pedágio da CCR RioSP na Via Dutra, em Arujá (Foto: Divulgação)

Guarulhos Todo Dia – Você me citou que o pedágio tradicional deve continuar convivendo com o free flow pelos próximos 15 ou 20 anos. Como a Abepam vê o futuro desse mercado?

Humberto Filho (Abepam) – A Abepam tem colaborado tanto do ponto de vista tecnológico com as concessionárias e com os governos, e também desse debate regulatório que está sendo travado. O free flow ainda está em fase de formatação e tem várias regras que estão sendo estruturadas ao longo da implantação desse sistema.

Por exemplo, uma delas é prazo para pagamento. Antes era 15 e agora foi para 30 dias. Existem outras regrinhas que estão sendo discutidas que são super relevantes, que vão ter impacto. E a Abepam tem se organizado enquanto setor que tem uma expertise de arrecadação de pedágio, de mais de 20 anos, para colaborar e tem colaborado de forma efetiva. Agora, eu acho que o grande desafio, por fim, que a gente também tem um papel importante nisso enquanto setor, é comunicação. É informar.

Nisso vocês, instrumentos de comunicação, são super relevantes. É informar bem o usuário o que é free flow, como ele vai funcionar e quais são os formatos de pagamento. Porque ciente disso tudo, as pessoas com certeza vão se apropriar dessa novidade que não tem como falar que é maléfica. Só traz vantagem pra todo mundo. Acho que um futuro onde não tem a praça de pedágio é um futuro que todo mundo queira, que as pessoas possam pagar o pedágio em movimento.

LEIA TAMBÉM:

REPORTAGEM EM VÍDEO:

Compartilhe!!

Siga o Guarulhos Todo Dia

Siga no Google News

LINHA 2-VERDE

Metrô define nesta semana empresa que vai construir Estação Ponte Grande, em Guarulhos

PONTO DE PARADA

Perto de Guarulhos: rede Frango Assado abre nova unidade na Via Dutra

FOLIA NA CIDADE

Carnaval de Guarulhos 2025: Programação do bloco com Claudia Leitte

CONTRATO APROVADO

Aeroporto de Guarulhos terá a maior sala VIP da América Latina, confirma Latam

DE 6 A 12 DE FEVEREIRO

Semana do Cinema em Guarulhos: Ingressos a R$ 10 na Cinemark, Cinépolis e Circuito Cinemas

REAJUSTE SALGADO

Shoppings de Guarulhos têm aumento no preço do estacionamento; Bonsucesso iguala o Maia

PEOPLE MOVER

Com entrega atrasada, Aeromóvel do Aeroporto de Guarulhos realiza testes com passageiros

TRABALHO

Pertinho de Guarulhos: Lojas do Itaquá Park Shopping estão com vagas de emprego abertas

CONFIRA A LISTA

Os filmes do Oscar 2025 nos cinemas de Guarulhos (e onde você pode assistir aos outros)

EM CARTAZ

Dica: Museu das Ilusões no Internacional Shopping, em Guarulhos

Aniversário de 40 anos

As histórias dos 40 anos do Aeroporto Internacional de Guarulhos

ANIVERSÁRIO DE 40 ANOS

Investimentos, obras e salas VIP: o que será do Aeroporto de Guarulhos no futuro

PRODUTO DE ASSINATURA

Clube Guarulhos Todo Dia: vantagens, por que usar e como funciona