Guarulhos é uma cidade reconhecida pela formação de grandes atletas. Para falar de nomes mais recentes, Rebeca Andrade começou a dar os primeiros saltos como ginasta no Ginásio Bonifácio Cardoso, o jogador de futebol Gabriel Martinelli brilhou nos campos e quadras da cidade antes de atingir o sucesso no Arsenal e na Seleção Brasileira. Nos anos 1990, Guarulhos chegou a receber o título de “capital do esporte amador”.
E um dos esportes mais queridos e mais tradicionais de Guarulhos é o vôlei, que tem dois lados muitos distintos. O Guarulhos Todo Dia vai te explicar nesta reportagem.
O time profissional da cidade desde 2020 é o “Vôlei Guarulhos”, que jogou com o nome de Vedacit até o meio deste ano. Para a próxima temporada da Superliga masculina, a equipe vai continuar na cidade, após uma mudança para Brasília não ter dado certo. Gerida pela Associação Índios Guaru, a equipe tem categorias de base e o projeto social Flechinhas, voltado para o público infantojuvenil e apoiado pela iniciativa privada através de projetos governamentais.
Por conta de um acordo costurado com a Prefeitura de Guarulhos desde 2020, a Associação Índios Guaru é quem tem direito de usar o Ginásio da Ponte Grande para treinar e para jogar.
Categorias menores do vôlei de Guarulhos estão sem casa
Já os times de categorias menores da Prefeitura de Guarulhos estão sem casa para receber jogos, e os pais têm feito esforços para manter as crianças e adolescentes treinando. Nossa reportagem foi procurada por pais da Aprov, a Associação de Pais Pró-vôlei de Guarulhos, que se organiza para manter os cerca de 200 atletas do masculino e feminino no esporte.
Até 2019, as categorias mirins que carregam o nome “Prefeitura de Guarulhos” no peito treinavam no Ginásio da Ponte Grande, “a casa do vôlei guarulhense”. No entanto, com a pandemia e a chegada do Vedacit Guarulhos no profissional, a prefeitura cedeu a Ponte Grande exclusivamente para os treinos da equipe, deixando as categorias menores da cidade sem casa –atualmente, apenas alguns jogos da Aprov/Guarulhos do feminino no estadual acontecem na Ponte Grande.
Depois da pandemia, em 2023 e 2024, os “atletas da Aprov” precisaram treinar na Arena ACC, perto do Internacional Shopping, com os pais pagando para alugar a quadra, voltada ao futsal.
Desde o início deste ano, a Prefeitura de Guarulhos conseguiu encaixar o vôlei masculino municipal, que tem cerca de 50 atletas, para treinar duas vezes na semana no Ginásio João do Pulo. São categorias sub-15 e sub-17, mas crianças a partir de 10 anos de idade já são iniciadas no vôlei graças ao trabalho dos professores contratados pela prefeitura.
O problema, no entanto, é que o time não consegue marcar jogos contra adversários no João do Pulo, pois durante o fim de semana o espaço é usado prioritariamente para competições de basquete. O masculino não tem disputado torneios federados.
Já o feminino, treinado pelos professores Gigio e Marcos, tem categorias sub-13, sub-14, sub-15 e sub-19 disputando campeonatos da Federação, com o sub-17 fora.
Porém, os pais do feminino precisam alugar a quadra Pires, na avenida Brigadeiro Faria Lima, para os treinamentos. O espaço é feito para o futsal, o que prejudica o aprendizado das atletas. Os treinamentos acontecem às segundas, quartas e sextas. O aluguel custa R$ 3 mil por mês, com cada pai pagando cerca de R$ 65. Mas nem todos têm condições de pagar regularmente, então acaba existindo uma ajuda mútua.
De acordo com os pais, por causa da iniciativa dos professores José Aparecido Cardoso (o Zeco) e Paulo Navarro, as equipes de categorias menores de Guarulhos vão disputar o torneio Conexão a partir deste mês. Dos oito jogos previstos, Guarulhos conseguirá jogar somente um “em casa”, no João do Pulo. Um apoiador bancou o valor da inscrição, enquanto os pais se organizaram para dividir os custos de arbitragem e transporte.
Silvana Hermes, que faz parte da Aprov e é mãe do atleta Matheus, de 11 anos, pede que as categorias voltem a ter uma casa para treinar e mandar jogos. Nos últimos meses, ela tem enviado mensagens para uma conta do prefeito Lucas Sanches no WhatsApp.
“Precisamos de uma solução imediata para o uso de um ginásio para treinos de alto rendimento e competições dos nossos atletas de Guarulhos, com apoio dos pais e da Aprov. No próximo domingo [7] já começa outro campeonato, e seguimos sem espaço adequado. Solicitamos ao senhor o Ginásio da Ponte Grande, que sempre foi referência para o vôlei, mas até o momento não tivemos resposta. Pedimos, por favor, que não se esqueça dos nossos meninos e meninas atletas. Esta semana, durante o Olimpíada Colegial Guarulhense, não pudemos treinar no João do Pulo, pois respeitamos o evento. Porém, a realidade é que continuamos sem “teto” para o vôlei em Guarulhos.”
Mensagem de Silvana Hermes, da Aprov, ao prefeito Lucas Sanches
Bruna Magalhães tem um filho de 13 anos, uma filha de 10 e um afilhado de 14 que jogam nas equipes de categorias menores. Nos dias de jogo, frequentemente fora de Guarulhos, os pais se organizam para levarem os atletas de carro, além de arcarem com os custos de alimentação e de arbitragem dos torneios. Para alguns pais, os valores não chegam a pesar no orçamento. Outros, porém, acabam não conseguindo pagar tudo o que é necessário e precisam de socorro dos colegas para manter os filhos no esporte.
O professor Zeco, citado nesta reportagem, é um símbolo do vôlei de Guarulhos. Ele preferiu não conceder entrevista, pois ressaltou que esse é um movimento iniciado pelos pais. Atua há cerca de 50 anos no esporte da cidade: já foi jogador na década de 1970 e desde os anos 1980 atua como técnico. Por Guarulhos, já foi Bicampeão Estadual Mirim, Bicampeão Estadual Infanto-juvenil, quatro vezes campeão dos Jogos Regionais e 3 vezes campeão dos Jogos Abertos do Interior.
Zeco trabalhou na formação de atletas como o ex-jogador Sérgio Escadinha, o Serginho, o maior líbero da história do voleibol no Brasil. Ele é um dos quatro professores contratados pela prefeitura para trabalhar com os times das categorias menores da cidade atualmente.
O que diz a Prefeitura de Guarulhos
O Guarulhos Todo Dia enviou um pedido de posicionamento para a Prefeitura de Guarulhos na manhã de sexta-feira (29) e reforçamos o pedido na segunda (1º). Questionamos se existe algum prazo para que o feminino tenha um espaço cedido pela prefeitura para treinar regularmente e pedidos para a prefeitura explicar o apoio que tem dado às categorias menores do vôlei.
A resposta foi enviada na manhã desta quarta-feira (3), após a publicação da reportagem. Reproduzimos o posicionamento abaixo, na íntegra:
“Todas essas equipes estão inseridas no Chamamento Público 003/2024, que atende atletas desde os 12 até 21 anos com o valor de R$ 75.000,00 que pode ser utilizado com Taxas Federativas, Transporte, Alimentação, Material Esportivo ou uniformes, de acordo com o plano de trabalho apresentado pela APROV Guarulhos, que venceu a disputa pública para representar a modalidade.”
“Neste ano de 2025 as equipes masculinas estão disputando o campeonato Circuito Esportivo da Cidade de São Paulo e também iniciarão a disputa na Copa Conexão Nova Geração de Voleibol. Já as equipes femininas estão disputando o Campeonato Paulista de Voleibol da Federação Paulista de Voleibol.”
“As equipes masculinas, particularmente a Mirim, treinam 2x/semana no Ginásio do João do Pulo. Temos ciência da dificuldade de local para os treinamentos das equipes femininas, e seguimos buscando opções para atendê-las. Uma das opções que teremos em breve será o Thomeuzão. Também disponibilizamos alguns horários de treinos para o feminino durante a semana à noite e aos sábados pela manhã no Ginásio da Ponte Grande.”
“Quanto aos jogos, o Ginásio da Ponte Grande está recebendo as partidas das equipes femininas válidas pela Federação Paulista de Voleibol, basta consultar a tabela no site da Federação Paulista de Voleibol. Também já recebemos jogos das equipes femininas no João do Pulo, e os 2 ginásios estão disponíveis para receber jogos de todas as equipes de voleibol da cidade (desde que haja disponibilidade de agenda) basta solicitar para a Secretaria. No começo de Agosto, o técnico das equipes masculinas agendou 3 datas para receber as rodadas da Copa Conexão Nova Geração.”
“Portanto, por parte da Secretaria de Esportes e Lazer, apoiamos as equipes de base de voleibol integralmente, já que cedemos gratuitamente os profissionais técnicos, ginásios para jogos e treinamentos, além de repassar R$ 75.000,00 anuais através do Chamamento Público para o custeio geral das equipes.”
Vale dizer que o Ginásio Poliesportivo Paschoal Thomeu, o Thomeuzão, está com obras em andamento desde o ano passado. Se o espaço for entregue ainda em 2025, pode ser um bom impulso para o esporte guarulhense.
