A população de Guarulhos, especialmente a dos bairros Bonsucesso, Pimentas e Jardim Presidente Dutra, viu o sonho da Linha 14-Ônix (por VLT) se distanciar com a recente atualização do projeto pelo Governo do Estado de São Paulo. A Secretaria de Parcerias em Investimentos (SPI), responsável pelas privatizações da gestão Tarcísio de Freitas, revisou o edital de licitação do Lote ABC–Guarulhos, transformando o trecho que passaria pelo município em um “investimento contingente”, ou seja, opcional. Com isso, a futura concessionária deixa de ter obrigação inicial no contrato de construir estações nos bairros guarulhenses.
O projeto da Linha 14-Ônix, que será operada como Veículo Leve Sobre Trilhos (VLT), tinha como objetivo inicial ligar o ABC Paulista (partindo da Estação ABC/Pirelli, em Santo André) à região de Guarulhos, passando pela zona leste da capital. No plano original, a linha teria 41 quilômetros e incluiria três estações em Guarulhos: Sacramento, Pimentas e Bonsucesso. A chegada a Guarulhos estava prevista, inicialmente, apenas para 2040.
Com a mudança, o projeto foi “encolhido” para 27,6 km, e as três estações em Guarulhos foram retiradas do traçado prioritário e classificadas como trechos contingentes. A informação sobre a mudança foi publicada pelo site Via Trolébus, nesta segunda-feira (20).
Um investimento contingente é definido como um compromisso que se torna exigível apenas se ocorrer um evento futuro e incerto. Na prática, isso significa que a construção do VLT em Guarulhos poderá ser executada somente no futuro, dependendo de um acordo entre o governo e a concessionária que vencer a licitação. O trecho prioritário imediato da Linha 14-Ônix compreende agora o percurso entre o Hospital Jardim Helena e o ABC.
Redução de investimento e capacidade
A mudança no escopo do projeto não apenas atrasa indefinidamente a expansão do transporte de trilhos para a região mais populosa de Guarulhos, mas também reflete uma redução no investimento total e na capacidade esperada da linha.
O custo estimado para a construção da Linha 14-Ônix caiu de R$ 13,1 bilhões para R$ 11,7 bilhões. A SPI também revisou a demanda prevista, que era de 225 mil passageiros por dia, para 189 mil usuários em dias úteis.

A escolha do modal VLT já havia gerado controvérsia e críticas entre especialistas e interessados. Enquanto a CPTM e a Secretaria dos Transportes Metropolitanos haviam projetado a Linha 14 como um trem metropolitano de média capacidade (adequado para demandas acima de 20 mil passageiros por hora), a Secretaria de Parcerias e Investimentos optou pelo VLT, que tem capacidade menor.
O VLT é considerado uma alternativa mais econômica, que exige menos desapropriações e gera menor impacto socioambiental. No entanto, especialistas temem que o VLT, com capacidade para 440 passageiros por composição e oferta de cerca de 6 mil passageiros por hora no pico, já nasça saturado, dado que estudos anteriores indicavam a necessidade de trens pesados para atender uma demanda potencial de 750 mil passageiros. A Secretaria defende que a Linha 14 servirá primariamente como “alimentadora” para outras linhas.
Com a retirada dos trechos de Guarulhos do investimento prioritário, o VLT terá seu traçado principal dividido em três fases: a primeira, entre ABC e Jardim Itapólis (8,9 km); a segunda, até A.E. Carvalho (10,4 km); e a terceira, de A.E. Carvalho até Hospital Jardim Helena (8,4 km).
Governo prevê fazer leilão da Linha 14 em 2026
O processo de concessão, que inclui a requalificação da Linha 10-Turquesa e a construção da Linha 14-Ônix em um lote de Parceria Público-Privada (PPP) com duração de 30 anos, prevê um investimento total de R$ 19 bilhões.
O cronograma atualizado, disponibilizado pelo governo estadual, prevê que a publicação do edital para as linhas 10 e 14 ocorra ainda em outubro. O leilão do Lote ABC–Guarulhos, por sua vez, está previsto para fevereiro de 2026, com a assinatura do contrato estimada para junho do mesmo ano. Inicialmente, o leilão estava programado para ocorrer entre o final de novembro e o início de dezembro de 2025.
A exclusão da parte guarulhense no trecho prioritário garante uma redução do prazo de entrega do trecho central, que caiu de 10 para 9 anos. No entanto, a incerteza sobre a ligação de Bonsucesso, Pimentas e Sacramento com a malha metropolitana permanece, já que o trecho agora depende de eventos futuros e acordos contratuais para ser concretizado.