O shopping abandonado da Vila Fátima, talvez o mais famoso “elefante branco” de Guarulhos, está na mesma situação há décadas. Uma construção sem uso em um terreno de 40 mil metros quadrados, travando o desenvolvimento de um bairro inteiro. Como seria se esse empreendimento estivesse em funcionamento atualmente? O Guarulhos Todo Dia usou duas plataformas de Inteligência artificial (IA), o ChatGPT e o Gemini, para criar uma simulação do que seria o “Shopping Plaza Guarulhos”, com imagens da possível fachada (como a que ilustra este texto) e da área interna.
Vale dizer que nenhuma plataforma de IA substitui o trabalho de engenharia, arquitetura, urbanismo e de todos os profissionais necessários para viabilizar um projeto de construção ou de revitalização, como seria o caso do centro comercial da Vila Fátima. No entanto, a proposta dessa reportagem é imaginar, do ponto de vista da curiosidade, o que poderia ser esse espaço, que se estivesse de fato funcionando exigiria um planejamento diferente do ponto de vista ambiental e de trânsito para a região.
O Grupo Sá Cavalcante, que controla seis shoppings em quatro estados diferentes (Espírito Santo, Maranhão, Piauí e Pará), e é o dono do terreno desde o início dos anos 2000. As tentativas da empresa de regularizar o imóvel e destravar o empreendimento, embargado por questões ambientais, nunca deram certo nos últimos anos. A companhia, porém, diz que segue com intenção de um dia fazer o centro comercial funcionar, com o nome de “Plaza Guarulhos”.
“Temos uma localização muito boa e acreditamos no projeto, mas é algo para médio e longo prazo”, afirmou Marcelo Rennó, diretor de Operações do Grupo Sá Cavalcante, em entrevista à Coluna do Broadcast, do Estadão, em janeiro de 2025.

O projeto do shopping da Vila Fátima
O Shopping da Vila Fátima teria uma estrutura grandiosa. A área construída total chegaria a cerca de 130 mil metros quadrados. Além do esqueleto que está abandonado, havia uma previsão de construir uma torre comercial de 20 andares ao lado do centro comercial. O custo estimado total do projeto era de R$ 110 milhões.
O complexo foi projetado para abrigar:
- 419 lojas
- 2.500 vagas de estacionamento
- Sala de cinema com 2.000 assentos
- Centro empresarial de 20 andares com 288 salas comerciais
Enviamos as fotos do shopping abandonado e passamos diferentes orientações para o ChatGPT criar projeções externas e internas do espaço. Vale do ponto de vista da curiosidade, mas, conforme já explicamos, não é um projeto perfeito. Para isso, somente o trabalho profissional.
Projeção externa




Projeção interna




Também pedimos para o Gemini tentar fazer um projeto, mas ele não entendeu muito bem a ideia e se empolgou nas dimensões…

Por que esse shopping em Guarulhos está abandonado?
A construção inicial do empreendimento, que na década de 1990 se chamaria “Shopping Center Guarulhos”, parou devido a dificuldades financeiras dos proprietários, débitos com o poder municipal e questões legais relacionadas ao terreno. Anos depois, o Grupo Sá Cavalcante assumiu o negócio.
Em 2009, sob a gestão do então prefeito Sebastião Almeida, o projeto ganhou novo fôlego e um novo nome: “Shopping Plaza Guarulhos”. Naquele momento, a Prefeitura deu o sinal verde para a retomada das obras. O entendimento do Poder Executivo era que o projeto respeitava a legislação ambiental vigente no final da década de 1980, quando a construção teve início, mesmo que a lei tivesse sido alterada posteriormente.
Para viabilizar a retomada, a Prefeitura exigiu contrapartidas do Grupo Sá Cavalcante. Entre elas estavam a doação de um terreno de 12 mil metros quadrados para moradias populares, o plantio de 1.200 árvores dentro do próprio shopping e a doação de 3.000 mudas de árvores para o poder público. Em audiência pública, a prefeitura garantiu que todos os impactos haviam sido analisados e a autorização concedida obedecia às leis e exigências necessárias.
No entanto, a decisão da Prefeitura foi contestada na Justiça. No início de 2010, a 2ª Vara da Fazenda Pública de Guarulhos concedeu uma liminar, solicitada por grupos de oposição ao prefeito Almeida, para suspender os trabalhos. A sentença judicial apontava que a obra tinha potencial para “ensejar danos ambientais severos”, principalmente pela falta da apresentação de estudos sobre os possíveis impactos, notando que a Prefeitura estava licenciando intervenções em uma área de preservação permanente.
Um relatório elaborado pelo então líder da oposição e presidente da Comissão de Obras e Serviços Públicos, vereador Geraldo Celestino, apontou supostas irregularidades. O político alegou que a prefeitura não solicitou o Relatório de Impacto de Trânsito (RIT), concedeu o alvará em menos de um mês (quando o trâmite levaria no mínimo 5 meses), e que o shopping acumulava dívidas de IPTU na casa dos R$ 15 milhões.
Apesar das tentativas de representantes do Grupo Sá Cavalcante, comerciantes locais, moradores e vereadores governistas de reverter a liminar, inclusive com protestos, a decisão judicial prevaleceu. Desde 2010, a obra do Shopping da Vila Fátima permanece paralisada.
Em 2017, a gestão Guti chegou a considerar a possibilidade de transformar a construção abandonada em um centro administrativo municipal, mas um grupo técnico considerou a ideia inviável.