As imagens do desabamento de um sobrado residencial na Av. Papa João Paulo I – 2501, no Jardim Presidente Dutra, chamaram a atenção de moradores de Guarulhos e também de especialistas da área de engenharia. Segundo a prefeitura, sete famílias moravam de aluguel no local, que caiu no último sábado (24). Ninguém ficou ferido, mas as causas da queda da estrutura que já existia há muitos anos no endereço estão sendo apuradas pelo poder público.
Para explicar os possíveis motivos do desabamento e discutir o problema com propriedade, o engenheiro civil Felipe S. Oliveira, especialista em projetos estruturais e apresentador do canal Engenharia Ativa no YouTube, analisou o ocorrido em um vídeo publicado nesta semana. Você pode assistir ao conteúdo abaixo, mas vamos destacar os principais pontos neste texto.
O imóvel que desabou era uma construção de esquina em uma rua com declive. A estrutura possuía um subsolo, um pé direito duplo (mais alto) no piso térreo, e mais duas lajes acima. A construção aparentava ter sido realizada em diversas etapas, começando por um galpão comercial no térreo e residências nos dois pisos superiores.
Apesar de a estrutura apresentar elementos de concreto armado “consideravelmente robustos”, o colapso levanta questionamentos sobre as causas. O engenheiro civil ressalta que sua análise é baseada em hipóteses, pois um laudo técnico oficial ainda será elaborado.
“Toda a construção que colapsa tem uma somatória de erros, uma somatória de fatores. Nunca acontece de uma única vez por um único fator, é bem difícil, a não ser que esse único fator seja muito expressivo. Todas as hipóteses que estou levantando nesse vídeo podem estar interligadas de alguma maneira, é a teoria do queijo suíço, do acúmulo de erros que leva ao colapso”.
Felipe S. Oliveira, engenheiro civil e apresentador do canal Engenharia Ativa no YouTube
Possíveis causas do desabamento
Entre as possíveis causas, destacam-se as seguintes hipóteses:
- Recalque da fundação: O engenheiro explica que, com o aumento progressivo da carga ao longo dos anos, a fundação pode ter afundado, provavelmente por não ter sido feito um estudo de solo adequado para dimensioná-la. Este é um problema comum, especialmente em construções que crescem ao longo do tempo sem planejamento.
- Corrosão da armadura: Elementos estruturais como vigas estavam aparentes, sem proteção como pintura ou reboco. Isso pode ter levado a um processo avançado de corrosão da ferragem, fragilizando a estrutura ao longo dos anos.
- Baixa resistência do concreto: O concreto misturado na obra, conhecido popularmente como “três para um”, geralmente não atinge a resistência mínima necessária para elementos estruturais (25 MPa). Um concreto frágil e mais poroso agride a armadura, acelerando a corrosão.
- Esmagamento de pilar: Uma trinca diagonal ou o bloco estourando na parte mais baixa da estrutura, observado no vídeo antes do colapso principal, pode indicar o esmagamento de um dos pilares.
- Fragilização por modificações: A passagem de um cano cortando uma viga foi notada na análise, o que pode ter comprometido a rigidez estrutural. Conforme o especialista, “esse cano passando aqui ó cortando a viga olha esse cano passando aqui… passaram um cano cortaram a viga estrutural”.
O problema da falta de projeto e responsável técnico
Um ponto crucial levantado por Felipe Oliveira é a ausência de projeto técnico e responsável técnico na maioria das obras que desabam. O engenheiro critica a cultura de construir sem pensar nas consequências. “Infelizmente situações como essa vão acontecer cada vez mais e tudo isso por conta de uma cultura que não pensa em consequências, uma cultura até de egoísmo das pessoas de acreditar que engenheiro não serve para nada, que projeto é só gasto”, afirma.
O especialista complementa que a maioria das obras que colapsaram em áreas residenciais do tipo não tinham projeto ou aprovação. Ele destaca a diferença entre a mão de obra informal e o profissional habilitado. Um engenheiro é obrigado a emitir a Anotação de Responsabilidade Técnica (ART) e é fiscalizado pelo CREA, por isso é um profissional que precisa ser valorizado.
“Se for provado que um projeto dele levou pessoas à morte ou construções desabaram por conta de indisciplina profissional, ele perde o registro que não pode mais exercer a sua função”, enfatiza. Essa fiscalização existe para resguardar o morador e a família que vai utilizar a estrutura.
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