Cadê a vacina contra a dengue? Essa pergunta está se tornando cada vez mais comum. A resposta, no entanto, é simples: existe uma vacina disponível nos postos de saúde, mas a procura tem sido baixa. O Ministério da Saúde adquiriu 9,5 milhões de doses. Como são necessárias duas doses para completar a imunização, aproximadamente 4,75 milhões de brasileiros podem ser vacinados este ano.
Apesar disso, muitas unidades de saúde enfrentam um problema inesperado: doses sobrando. Para evitar o desperdício, foi necessário adotar medidas que garantam o uso adequado antes do vencimento. Mas por que há tão poucas doses? E se a vacina é essencial, por que ainda não foram adquiridas mais unidades? Quais são os benefícios e limitações dessa vacina? Quem pode se imunizar e quem está fora do público-alvo? Para esclarecer essas questões, o GTD Saúde buscou informações oficiais.
Dengvaxia: eficaz, mas com restrições
Atualmente, apenas duas vacinas contra a dengue foram aprovadas pelas principais agências de saúde do mundo. A primeira, Dengvaxia, do laboratório francês Sanofi Pasteur, recebeu aprovação em 2015 e protege contra os quatro sorotipos do vírus.
No entanto, essa vacina é indicada apenas para quem já teve dengue. Como muitas infecções passam despercebidas, é necessário realizar um exame antes da aplicação. Além disso, o esquema vacinal exige três doses com intervalo de seis meses entre elas, sendo a imunização garantida apenas após a terceira dose. Todas essas limitações dificultaram sua adoção na rede pública, e a procura em clínicas privadas também é baixa.
Qenga: melhor, mas com desafios
Em 2022, a vacina Qdenga, do laboratório japonês Takeda, foi apresentada às agências reguladoras. No Brasil, a Anvisa aprovou seu uso em março de 2023 para pessoas de 4 a 60 anos. Em dezembro do mesmo ano, o SUS incorporou essa vacina, tornando o Brasil o primeiro país a oferecê-la no sistema público de saúde.
A Qdenga é tetravalente, combatendo os quatro sorotipos da dengue. Seu esquema vacinal consiste em duas doses aplicadas com um intervalo de 90 dias. Para garantir proteção eficaz, é essencial que ambas sejam administradas. De acordo com a Sociedade Brasileira de Imunização, a eficácia varia conforme o sorotipo: 69,8% contra DENV-1, 95,1% contra DENV-2 e 48,9% contra DENV-3. Para DENV-4, a proteção estimada em pacientes hospitalizados foi de 84,1%.
As únicas contraindicações da Qdenga envolvem mulheres grávidas, lactantes e pessoas com imunodeficiência.
Porque tão poucas doses nos postos?
Se a vacina é eficaz, quais são os desafios? O primeiro é a capacidade de produção do laboratório. A Qdenga chegou às clínicas privadas em julho de 2023 e rapidamente esgotou. Quando o SUS começou a distribuí-la, a demanda superou a oferta.
Em 2024, o Ministério da Saúde recebeu 5,2 milhões de doses, permitindo a imunização de aproximadamente 3,2 milhões de pessoas. Para lidar com a escassez, a vacinação foi direcionada para adolescentes entre 10 e 14 anos em municípios com alta incidência da doença. Inicialmente, 521 municípios de 16 estados e do Distrito Federal participaram da campanha. Atualmente, quase dois mil municípios já oferecem a vacina.
Para evitar desperdício, o Ministério da Saúde ampliou recentemente a faixa etária para 6 a 16 anos, permitindo que cada município decida sobre a expansão conforme a disponibilidade de doses próximas ao vencimento.
O que deve melhorar no ano que vem?
O governo federal anunciou hoje, 25, a produção em larga escala da primeira vacina 100% nacional e de dose única contra a dengue. O fato de ser 100% nacional aumenta nosso controle sobre a produção e por ser em dose única, a vacina tem potencial de aumentar a adesão à vacinação. A previsão é de uma oferta de 60 milhões de doses da vacina em 2026, com capacidade de ampliação de acordo com a demanda e o aumento da capacidade produtiva.
Segundo a ministra da Saúde, Nísia Trindade, “a gente espera, em dois anos, poder vacinar toda a população elegível”. Inicialmente, a vacina será destinada à população de 2 a 59 anos. A vacina é uma parceria entre o Instituto Butantan e a empresa WuXi Biologics.
Dá pra contar só com a vacina?
Ficou claro que a vacinação é essencial, e quem estiver no público-alvo deve garantir a imunização. Entretanto, a vacina sozinha ainda não é suficiente para reduzir significativamente os casos e óbitos. Dessa forma, o combate aos focos do mosquito continua sendo a estratégia mais eficaz, dependente não apenas do poder público, mas também de cada cidadão.
A situação exige atenção. Até o momento, o Ministério da Saúde registrou 401.408 casos prováveis de dengue no Brasil, com 160 mortes confirmadas e 387 em investigação. Em Guarulhos, 509 casos foram confirmados até 24 de fevereiro, sem registros de óbitos.
GTD Saúde
O GTD Saúde é a coluna semanal sobre saúde aqui, no Guarulhos Todo Dia. O objetivo é trazer informações seguras e confiáveis sobre questões de saúde do nosso dia-a-dia. Com orientações práticas para o nosso público se prevenir ou se tratar. Para isso, recorremos sempre a informações oficiais. A dengue é uma questão de saúde essencial. Por isso, assim como no ano passado, vamos acompanhar os dados e números, até que passe a fase mais crítica. E você pode acompanhar a evolução dos casos e mortes por dengue, zika, chikungunya e febre oropouche, nessa página oficial do Ministério da Saúde sobre as chamadas Arboviroses
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