Sexta-feira, 28 de março. Dentro da B3, a bolsa de valores brasileira sediada no centro de São Paulo, um amontoado de câmeras, microfones e repórteres. O leiloeiro abre os envelopes e anuncia as propostas das duas empresas que disputam o Lote Alto Tietê. No momento que eu cheguei, proposta do Grupo CCR, anunciada no telão, recebia aplausos. Em seguida, apreensão para a segunda proposta de desconto, do Grupo Comporte.
Urros e aplausos. O Grupo Comporte foi o vencedor. O leiloeiro os convocou aos discursos. Foram vários, mas é relevante falar sobre os representantes: José Efraim Neves, diretor do Grupo, e os irmãos e acionistas do Grupo, Henrique Constantino e Joaquim Constantino Neto, dois dos filhos do empresário Constantino de Oliveira, mais conhecido pelo nome de Nenê Constantino.
O Grupo Comporte é controlador de diferentes empresas de ônibus rodoviários e urbanos em São Paulo. Nenê Constantino é fundador da Gol Linhas Aéreas, parte de uma Holding, o Grupo Abra. A holding detém a Avianca desde 2023 e no fim de 2024 anunciou um plano de reestruturação da GOL, que está em recuperação judicial nos EUA. Recentemente, selou um acordo de fusão com a Azul, que ainda depende de aprovação do Cade e Anac.
Em relação à rede metroferroviária passa a acumular, com o leilão do Lote Alto Tietê, as Linhas 11-Coral, 12-Safira, 13-Jade e Expresso Aeroporto da CPTM. Além destas, detém a Linha 7-Rubi e a construção da linha do Trem Intercidades, que conectará São Paulo a Campinas, em parceria com a China Railway Construction Corporation (CRCC), também vencido via leilão.

Com o vencedor do leilão definido, o rito das três marteladas na B3: Secretaria de Transportes, Parcerias e Investimentos; presidência da Alesp e prefeitos do Alto Tietê, incluindo Lucas Sanches (PL); e, por fim, o governador de São Paulo Tarcísio de Freitas (Republicanos). O prefeito de Guarulhos trocou rápidas ideias sobre o martelo com o governador. Aliás, um objeto cobiçado entre os presentes, instagramável. Os envolvidos tiraram várias fotos com o símbolo dos leilões.
O futuro da Linha 13-Jade
Para falar de Guarulhos, e de Linha 13, Tarcísio mencionou que o objetivo primeiro é “a interligação com a rede de São Paulo” e de “alcançar pessoas que não eram alcançadas”, fazendo referência às estações com obras previstas na concessão, até Bonsucesso. “A gente está falando de trazer 300 mil passageiros a mais para essa linha 13, então o grande benefício é esse, alcançar mais gente, interligar mais com o resto da rede”.
A Linha 13-Jade tinha como projeto original se expandir para além do Aeroporto de Guarulhos, chegando até a estação em Bonsucesso, e, na outra extremidade, ligar estações com as linhas 12-Safira e Expresso Aeroporto, alcançando estações no Parque da Mooca e Chácara Klabin. Essa ideia de extensão pela capital paulista foi posteriormente descartada e inserida na condição de “investimento contingente” para a concessão da Família Constantino, o que significa que não será uma obrigação da concessionária vencedora.

Sobre esse aspecto, o governador disse que “a expansão é feita paulatinamente”, de modo que a linha “está expandindo na direção de Guarulhos”. Para ele, estes investimentos faltantes “podem ser descartados no contrato e podem promover também a expansão na outra direção. Quando você pega o planejamento de interligação da rede, isso está sendo contemplado”, completou.
Na prática, o guarulhense terá novos meios de chegar até a capital, mas dentro da cidade ainda precisará de um acesso mais dinâmico pelos trilhos.
Prazos para a extensão até Bonsucesso
Além das quatro estações novas estações projetadas aqui para a cidade (Jardim dos Eucaliptos, São João, Presidente Dutra e Bonsucesso), a extensão da Linha 13 também prevê outras duas novas estações em São Paulo: a Cangaíba e a Gabriela Mistral (onde será possível fazer conexão com a futura extensão da Linha 2-Verde do Metrô).
Em relação à linha que atende a população de Guarulhos, os principais prazos para as obras de extensão são os seguintes:
- Leilão para a concessão das linhas do Lote Alto do Tietê – Aconteceu em 28 de março de 2025
- Assinatura do contrato entre governo de SP e o Grupo Comporte – Segundo trimestre de 2025
- Início das obras de expansão em Guarulhos – Ano 4 do contrato (2029)
- Entrega das obras de expansão em Guarulhos – Ano 7 do contrato (Entre 2032 e 2033)
O valor da concessão do Lote Alto Tietê é de R$ 14,3 bilhões para 25 anos de contrato. Nesse primeiro momento, o dinheiro vai sair dos cofres da concessionária que venceu o leilão, mas o estado de São Paulo terá que ressarcir esse valor para a empresa nos próximos anos.
Após a conclusão de todas as obras previstas no edital, o governo vai pagar cerca de R$ 10 bilhões à companhia privada, ou seja, 70% do valor do contrato. Os outros 30% a concessionária receberá em contraprestações mensais ao longo dos 25 anos. É como se a empresa estivesse fazendo um empréstimo ao poder público enquanto administra o que foi concedido.