Reportagem de Amanda Oliveira, da Agência Mural.
Quem circula pelo centro de Guarulhos certamente conhece o Casarão da Sete de Setembro. Com uma bela arquitetura, apesar de escondida pelos escombros do tempo e uma placa de reforma, o imóvel já foi sede de Fórum na cidade, secretarias e se manteve como a casa do ex-prefeito José Maurício de Oliveira, que esteve no comando do município por dois mandatos 1919-1930 e 1940-1945.
A restauração foi licitada em 2013 e somente neste ano eleitoral houve movimentação para iniciar as obras, apesar de a prefeitura ter anunciado que a intervenção começaria em dezembro de 2023.
“O casarão teve sua obra licitada e terá sua história preservada, sendo um espaço moderno e tecnológico com muita interatividade, espaço para a formação de professores, visita de alunos e munícipes, pesquisa, acervo da cidade e muito mais”, anunciou a prefeitura em 13 de dezembro, citando o valor de R$ 7 milhões no projeto.
Procurada pela Agência Mural, a prefeitura não retornou com a resposta sobre o prazo para o término da obra.
O imóvel foi construído em 1925 como a casa do antigo prefeito José Maurício de Oliveira que, segundo registros, permaneceu até 1945. Lá já foi sede da 1ª Vara do Fórum de Guarulhos, em fevereiro de 1956, e também abrigou no período entre 1973 e 2001 a Secretaria de Obras, a Junta de Alistamento Militar e o Museu Municipal.
Apesar disso, a ideia de restaurar o espaço para trazer essa história tem patinado há décadas. O casarão foi tombado como patrimônio histórico em dezembro de 2000 e somente 13 anos mais tarde recebeu a verba para iniciar os reparos.
Nessa época, em 2013, a cidade era conduzida pelo prefeito Sebastião Almeida (PT). O sucessor dele, Guti (PSD), está no comando da cidade desde 2017. Em nenhuma das administrações houve a iniciativa de começar as obras, com exceção do último mandato neste ano.
Apesar de a casa ficar na zona central da cidade, não são todos os moradores que sabem a história do casarão e tampouco que ele já foi tombado como patrimônio de Guarulhos.
“Deveria (o casarão) ser restaurado primeiro, porque aquilo é um patrimônio de Guarulhos, conta a história da cidade. Tem que fazer alguma coisa cultural, preservar para visitas e ter um pouco da história de Guarulhos”.
Miguel Antônio, 42, morador da cidade e agente social
De acordo com Tiago Guerra, o diretor da AAPAH (Associação Amigos do Patrimônio e Arquivo Histórico) – entidade sem fins lucrativos que visa a fiscalização para a conservação dos patrimônios materiais e imateriais, o poder executivo tem a visão que a política de restaurar patrimônios é secundária, já que isso não atrai votos imediatamente.
“Em relação ao casarão nós temos uma longa história. Primeiro organizamos uma campanha: ‘Abraço a causa do seu Zé’, em 2016. Acompanhamos desde 2013/2014, o processo de projeto de restauro. A gente tenta lutar pela garantia de que a casa possa ser restaurada. Nos últimos anos há uma imperícia da prefeitura em realizar e finalizar a obra”, opina Guerra.
Para ele, houve uma série de incompetências, entre elas a falta de entendimento do que era uma reforma e a não contratação de um restaurador. “De maneira geral, os governantes, o poder executivo, tem uma visão que a política de restaurar edifícios históricos é sempre secundária e atrasada, porque não é algo que atrai votos imediatamente”, afirma Guerra.
Cadê os espaços culturais em Guarulhos?
A restauração do casarão visa também reduzir a falta de espaços destinados à cultura na cidade de mais de 1,3 milhão de habitantes.
Em maio de 2020, a Secretaria da Cultura de Guarulhos fez um levantamento de dados obtidos com o mapeamento sobre espaços culturais. Apesar de o relatório ter sido criado com o objetivo de diagnosticar o impacto das restrições impostas pela pandemia da Covid-19 e observar o retorno dessas atividades, é possível notar a carência de espaços culturais na cidade.
O relatório mostra que, de 47 bairros em Guarulhos, há apenas 8 espaços culturais em apenas 4 bairros, sendo que quatro deles estão concentrados na região central do município. A Agência Mural entrou em contato com a prefeitura sobre os espaços culturais e não houve retorno até a publicação desta reportagem.
Este texto foi originalmente publicado na Agência Mural