A Prefeitura de Guarulhos realizou nesta semana a poda de duas árvores que eram queridinhas de alguns moradores do bairro Residencial Mazzei, localizado na região da avenida Salgado Filho, entre o Maia e a Vila Rio. As árvores são da espécie “Ficus benjamina”, mais conhecidas como “berigan” ou “figueira-benjamim”, e davam mais vida à região, que sofre frequentemente com o mau cheiro do Córrego dos Cubas. Nos últimos dias, pessoas de diferentes bairros da cidade têm visto um trabalho intenso de podas e cortes.
No caso dessas duas árvores do Residencial Mazzei, elas tinham copas altas, verdes e bastante usadas por passarinhos, que formaram ninhos entre os muito galhos. Elas ficam no fim de uma rua sem saída, a Maria Nardi de Carlos, mas também podem ser vistas por quem circula na altura do número 690 da avenida Doná Rosa Maria de Conceição Barbosa, onde passa o córrego. Além da circulação de veículos, muitas pessoas praticam esporte, passeiam com cachorros e caminham por ali.
Veja a localização exata na imagem:
Reclamação de moradores do bairro
Na terça-feira (25), quando funcionários da Secretaria de Meio Ambiente começaram a cortar as árvores e retirar praticamente toda a copa, houve um misto de tristeza e revolta no bairro.
“Nossa situação em Guarulhos é essa. O rio fétido a prefeitura deixa porque é área de preservação permanente, mas uma árvore maravilhosa –era a única que dava gosto nesse lugar aqui– eles estão cortando a árvore inteira. Não adianta falar que vai cair porque tem o rio. Se caísse no rio, não teria problema. E a porcaria do rio que fede horrores vai continuar aqui”, registrou a nutricionista Debora Elyodora, moradora do bairro, em vídeo compartilhado nas redes sociais e enviado à nossa reportagem.
Já a arquiteta Kelly Barbosa de M. Costa, que também vive na região, confessou que chegou a chorar por causa da decisão da prefeitura:
“Cortaram várias árvores por causa de empreendimentos. Desde ontem, eu estou chorando por causa dessas duas árvores. Elas eram dormitórios de passarinhos. Durante a noite, principalmente no verão e na primavera, tinham muitos passarinhos que dormiam nessas duas árvores. É uma tristeza sem fim isso. Enquanto a gente um monte de catástrofe acontecendo justamente por causa desse tipo de descaso com o meio ambiente e a natureza, a gente vê Guarulhos fazendo isso. É um absurdo!”.
No entanto, algumas pessoas que moram na Maria Nardi de Carlos aprovaram a poda que foi realizada. O argumento é que as árvores poderiam servir como “esconderijo de bandidos”.
Houve, inclusive, um rápido bate-boca entre os vizinhos durante os trabalhos da prefeitura.
E por que as árvores foram podadas?
O Guarulhos Todo Dia entrou em contato com a Prefeitura de Guarulhos para entender a razão dessa poda e se foi identificado risco de queda. Não havia fiação elétrica acima das árvores. Também questionamos se alguém tinha solicitado o serviço, se tinham feito algum tipo de denúncia/reclamação ou se era um trabalho de monitoramento realizado pela prefeitura. Reproduzimos a resposta do Executivo municipal abaixo, na íntegra:
“A Secretaria de Meio Ambiente (Sema) informa que foram realizadas, na rua Maria Nardi de Carlos – Residencial Mazzei, podas de condução e rebaixamento de duas Ficus benjamina para equilíbrio arbóreo e retirada de galhos danificados”.
Prefeitura de Guarulhos, em nota
De acordo com o Manual Técnico de Poda de Árvores, elaborado pela Prefeitura de São Paulo, uma poda de condução é o seguinte:
“Quando a muda já está plantada no local definitivo, a intervenção deve ser feita com precocidade, aplicando-se a poda de condução. Visa-se, com esse método, conduzir a planta em seu eixo de crescimento, retirando os ramos indesejáveis e ramificações baixas, direcionando o desenvolvimento da copa para os espaços disponíveis, sempre levando em consideração o modelo arquitetônico da espécie. É um método útil para compatibilização das árvores com os fios da rede aérea e demais equipamentos urbanos, prevenindo futuros conflitos”.
Já uma poda de equilíbrio retira “galhos ou porções mais densas/pesadas da árvore, as quais estão ou podem vir a desequilibrar a árvore, ocasionando um risco de queda da mesma ou de tombamento”.
Prefeitura de Guarulhos aumenta em 330% o número de podas de árvores em 5 anos
No ano passado, a Prefeitura de Guarulhos anunciou que podou mais de 4.500 árvores em mais de 40 bairros da cidade. “O número é 330% superior ao registrado em 2017, quando 1.236 podas foram feitas. Com uma média de 400 ordens de serviço do tipo por mês”. Em 2022, foram 5.249 registros de podas.
“O desbaste é importante para evitar o crescimento excessivo e manter a saúde das árvores de forma a evitar quedas e acidentes. O serviço é feito por servidores da pasta e também por equipes terceirizadas”, diz a prefeitura.
A Sema explica que o trabalho de poda resulta, em média, em cinco toneladas de resíduos florestais por mês: “Cerca de 80% do material é reaproveitado pela Prefeitura, por meio de compostagem para a produção de adubo orgânico, do destino das folhas e dos galhos menores, e também para confecção de móveis, vigas, caibros e sarrafos, trabalho feito na Serraria Ecológica da Sema. A destinação ambientalmente correta dos resíduos evita o envio dos mesmos ao aterro sanitário, o que possibilita a economia de recursos e colabora para a preservação do meio ambiente”.
De acordo com o procedimento divulgado pela Secretaria do Meio Ambiente de Guarulhos, antes da realização de poda “é realizada vistoria técnica ao local para identificação da espécie arbórea, análise fitossanitária e verificação do tipo de manejo a ser adotado. Após a vistoria, é elaborado parecer técnico da árvore considerando a sua localização”.
Para solicitar a poda de árvores localizadas em calçadas os respectivos proprietários dos imóveis devem fazer a solicitação do serviço em uma das unidades da Rede Fácil Atendimento ao Cidadão, mediante agendamento antecipado por meio do link https://facilagendamento.guarulhos.sp.gov.br/.
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