O adolescente Cleiton Diogo Ferreira Alves, de 16 anos, levou um tiro na cabeça durante a dispersão de um baile funk na região do Pimentas, em Guarulhos, na madrugada de domingo (28) para segunda-feira (29). O jovem está internado em estado grave na UTI do Hospital Municipal Pimentas Bonsucesso. Além dele, um homem de 25 anos também foi baleado na perna, mas sofreu ferimentos leves. O boletim de ocorrência, obtido pela reportagem da TV Globo, diz que “a perícia no local foi prejudicada” –isso quer dizer que a cena não foi preservada a tempo da apuração policial.
Agora, os investigadores vão precisar descobrir de onde partiram os tiros. O caso foi registrado no 4º DP de Guarulhos, que fica no Parque Alvorada, como lesão corporal e tentativa de homicídio.
Divulgados nas redes sociais, os vídeos feitos durante a confusão na Rua Jequitibá mostram o momento que as pessoas que participavam do baile pulam um muro para fugir do tumulto. “Olha os ‘polícia’ dando tiro”, diz um dos homens nas gravações.
Segundo a prefeitura de Guarulhos, a Guarda Civil Metropolitana foi dispersar o baile funk após ter recebido reclamações de moradores por perturbação do sossego. Quando os agentes de segurança chegaram ao local, pedras e outros objetos teriam sido arremessados pelo público contra os guardas, informou a administração municipal.
“Durante a dispersão, a GCM utilizou apenas armas com munição não letal. No entanto, momentos depois, em uma mata longe do alcance da GCM, uma pessoa informou que havia sido baleada na perna, não sabendo explicar de onde partiu o tiro. Socorrida pelo Samu, ela foi levada ao Hospital Municipal Pimentas Bonsucesso com ferimentos leves, sem risco de vida”.
Durante a dispersão, a Guarda Civil apreendeu 70 motociclestas, sendo que oito delas tinham registro de roubo ou furto.
Adolescente baleado em baile funk
Ainda segundo a prefeitura, o adolescente Cleiton chegou ao hospital “levado por populares, que não se identificaram, apenas deixaram o jovem no hospital e saíram”.
O adolescente baleado cursa o 2º ano do Ensino Médio e tem sonho de ser jogador de futebol. Ele tinha uma seletiva marcada para o Juventus da Mooca nesta semana. De acordo com a mãe, em entrevista ao telejornal SP2 , da Globo, o jovem saía pouco de casa.
“Eu fiquei procurando ele igual louca porque os meninos que estavam com ele [no baile funk] chegaram em casa e nada dele chegar. Achei que tinha acontecido alguma coisa. Aí resolvi vir aqui no hospital e ele realmente estava aqui entre a vida e a morte”, desabafou Danila Oliveira Ferreira, mãe do garoto, emocionada.
Segundo a família, o “tiro foi de verdade, não foi de borracha não”. O médico do hospital informou aos familiares que Cleiton está muito mal porque o tiro foi de frente, na cabeça e a bala entrou e saiu. Cleiton está com um coágulo na cabeça.
Investigação
Nem a Secretaria de Segurança Pública nem a prefeitura informaram de onde partiram os tiros disparados na dispersão do baile funk no Pimentas, mas a Guarda Civil diz que usava armas não letais no momento do ocorrido.
Para Ariel de Castro Alves, membro da Comissão da Criança e do Adolescente da Ordem dos Advogados do Brasil de São Paulo (OAB/SP) e ex-secretário nacional dos Direitos da Criança e do Adolescente, é preciso que a Polícia Civil apure de onde veio o disparo que atingiu o adolescente.
Casto Alves também considera fundamental que o Ministério Público e a Polícia Civil apurem se a GCM cometeu abuso nesta ação. “Existem informações de que os guardas civis municipais cercaram e encurralaram os participantes do baile funk, e houve muito tumulto, o que poderia gerar uma tragédia como a de Paraisópolis, em São Paulo, em 2019”, disse ele à Agência Brasil.
Em dezembro de 2019, nove jovens morreram em um baile funk na comunidade de Paraisópolis, zona sul de São Paulo, após policiais cercarem o local. Houve tumulto, correria, e muitos jovens acabaram sendo pisoteados. O caso ficou conhecido como Massacre de Paraisópolis.
LEIA TAMBÉM -> Assaltos, medo e acúmulo de funções: a longa jornada dos trabalhadores da Oxxo