Um dos desejos que tenho enquanto guarulhense que gosta de futebol é poder ver um time da cidade disputando um campeonato de elite. Quem também compartilha desse desejo –e não são poucas pessoas– costuma olhar para cidades próximas a Guarulhos, como Diadema (com o Água Santa), Osasco (com o Audax), Santo André, São Caetano, São Bernardo e até Bragança Paulista (com o Red Bull Bragantino) com um sentimento de “nós também poderíamos viver isso”.
Acompanhar um clube aqui do município jogando o Paulistão, sonhando com uma classificação para o mata-mata, e quem sabe até uma competição como a Série B do Campeonato Brasileiro. Veja o desempenho que os paulistas Mirassol (que foi vice-campeão e subiu para a Série A) e Novorizontino (que ficou em quinto lugar) tiveram na temporada 2024. São cidades muito menores do que Guarulhos, mas que com trabalho sério, a longo prazo e apoio empresarial conseguiram montar elencos competitivos.
Guarulhos é uma cidade de tradição no futebol amador e de base, com oportunidades para crianças e adolescentes que sonham em seguir carreira no esporte. O Flamengo de Guarulhos e a A.D. Guarulhos são exemplos de clubes com um trabalho sério nesse sentido. Há milhares de pessoas que podem dizer que já jogaram ou fizeram as chamadas peneiras em um desses dois clubes.
Dito isso, um dos poucos momentos do calendário anual de futebol que faz o guarulhense se sentir mais engajado é a Copa São Paulo de Futebol Júnior, a Copinha. Guarulhos é tradicionalmente uma das sedes da competição. Nesta temporada, tem um time para acompanhar e torcer: o Flamengo –ou o Flamenguinho, como muita gente costuma chamar.
E a Copinha é uma prova que quando tem evento grande para torcer, a torcida de Guarulhos comparece. Em média, os jogos do Flamengo na Copa São Paulo deste ano estão levando mais de 3 mil torcedores ao Antônio Soares de Oliveira, no Jardim Tranquilidade; a capacidade atual do estádio é de aproximadamente 4 mil pessoas. A festa da torcida, com músicas, bandeiras, bateria e fanfarra, chama a atenção de quem não conhece o clube.
Flamengo de Guarulhos na Copinha 2025
A campanha da equipe em 2025 é promissora. O Rubro-Negro terminou com a liderança do Grupo 29 e saiu invicto da fase de grupos, com 7 pontos. O Internacional (RS), clube mais tradicional da “chave guarulhense”, foi eliminado em último lugar. Em entrevista ao Guarulhos Todo Dia, Antônio de Pádua, gerente de futebol do clube, explica o trabalho de preparação para a Copinha deste ano.
“O Flamengo está dando sequência ao trabalho que está sendo feito nos últimos cinco meses. Criou-se uma comissão técnica extremamente profissional, objetivou-se um modelo de trabalho um pouco diferente de outros anos. Ele traz atletas dos sub 16, 17, 18, 19 e 20, uma mescla, com cobrança na parte de preparação física. O presidente [Caio Soler] deu uma boa condição de hospedagem, de cuidado e zelo com os atletas, então nós quase não tivemos situações como lesões ou algo assim. E vimos que o time consegue chegar ao final do jogo em condição física boa”.
Antônio de Pádua, gerente de futebol do Flamengo
Agora, classificada para enfrentar o Náutico na fase de mata-mata na Copinha nesta segunda-feira (13), a equipe guarulhense tem como objetivo chegar mais longe na competição. “A gente vê com bons olhos e vê com felicidade [essa campanha na Copinha]. São 20 atletas no Flamengo que estão aproveitando a oportunidade, mostrando em campo a que vieram. Ser atleta profissional de futebol exige muito esforço e dedicação”, ressalta o dirigente.
ATUALIZAÇÃO -> Flamengo de Guarulhos vence o Náutico e se classifica para a 3ª fase da Copinha
Em 2024, o Flamengo fechou a primeira fase com quatro pontos e foi eliminado como terceiro lugar no grupo; Vasco (RJ) e Macapá (AP) avançaram. Em 2023, terminou em segundo lugar na fase de grupos, com 7 pontos –no primeiro jogo do mata-mata, perdeu em casa para o Novorizontino por 2 a 1. Em 2022, passou novamente em segundo, mas caiu logo no início do mata-mata para o Internacional. Em 2021, a Copinha não aconteceu por causa da pandemia.
Entrada por reconhecimento facial na Copinha
Uma novidade para quem costuma assistir ao Flamengo de Guarulhos na Copinha foi a necessidade de baixar um aplicativo chamado BIP FUT, disponível para Android e iOS, para ter o acesso liberado no estádio. O cadastro exige o registro de biometria facial, pois só com o reconhecimento facial a entrada no estádio é liberada. Após inserir os dados e cumprir o passo a passo, o torcedor pode resgatar o ingresso dentro do aplicativo.
De Pádua entende que esse tipo de tecnologia veio para ficar, mas ressalta que o novo acesso foi uma determinação da Federação Paulista de Futebol (FPF) informada ao clube em dezembro do ano passado. O Flamengo de Guarulhos manifestou preocupação com o cadastramento facial, pois o procedimento poderia causar dificuldades a torcedores menos familiarizados com o digital.
“No primeiro jogo, acabou tendo muita fila entre entrar, fazer a revista [com a Polícia Militar], fazer o reconhecimento facial e, antes de mais nada, as pessoas também baixarem o aplicativo. O sistema deu umas travadas. Então nós sabemos que esse é o caminho, só que foi muito forçado”, diz o gerente de futebol.
O executivo entende que a implementação do sistema deveria ter sido feita de forma gradual, com os dois primeiros jogos da Copinha ainda oferecendo aos torcedores que não fizeram o reconhecimento facial a opção de entrar no estádio. “No terceiro jogo, aí sim deveria ser todo mundo no app”.
Ao baixar o BIP FUT, o torcedor precisa fazer um cadastro e inserir dados como e-mail, data de nascimento e endereço. Esses dados, no entanto, não são repassados para o clube.
O estádio Antônio Soares de Oliveira
A capacidade atual autorizada do estádio do Flamengo de Guarulhos atualmente é de 4.093 pessoas. Poderia até ser mais gente, se uma das arquibancadas laterais não estivesse interditada por falta do certificado AVCB, o Auto de Vistoria do Corpo de Bombeiros.
Já faz um tempo que essa arquibancada serve somente para exibir os patrocinadores do clube e mostrar o placar do jogo –e é o “placar raiz”, com um funcionário responsável por fazer as marcações, como mostra a foto principal deste texto.
Ao Guarulhos Todo Dia, o gerente de futebol do clube explica que esse é um dos problemas que a diretoria comandada pelo presidente Caio Soler espera resolver ainda neste ano.
“O nosso presidente vem num trabalho em escala, não dá para fazer de uma vez só. Não tem dinheiro para tudo. Nós somos bem humildes, nós estamos na Quinta Divisão, então o patrocínio é bem escasso”, explica De Pádua, que detalha algumas melhorias realizadas nos últimos anos.
“Primeiro, foi feito um trabalho no campo para a Copinha de dois anos atrás [2023], depois foi feito um trabalho de todas as estruturas, de sistemas hidráulicos e parte elétrica. Não tínhamos cabeamento, não tínhamos nada. Umas coisas que são vexatórias, mas nós temos que deixar relatado. Agora, neste ano está dentro do projeto o trabalho de liberação dessa arquibancada. Entender o porquê ela está fechada, já que cada um fala um negócio, mas a gente acredita que dê para entender melhor o problema junto ao Ministério Público e dar a solução devida”.
O gerente de futebol também entende que esse é um momento que não apenas os torcedores, mas também empresas e patrocinadores, podem acreditar mais no time de Guarulhos. “Agora, parece que a cidade está voltando a olhar para o time do Flamengo como olhava em épocas anteriores, está vendo a segurança no trabalho. Não são aventureiros, é um pessoal da cidade”, diz.
*Colaborou nesta reportagem: João Vitor Reis
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