“Essa obra na Dutra acaba quando?”, “Essa obra na Dutra não tem fim?”, “Não aguento mais esse trânsito todo dia na Dutra”. Essas são as frases que muitos guarulhenses falam, escrevem ou ao menos pensam diariamente. Nesta terça-feira, 1º de julho de 2025, as obras que a CCR RioSP realiza no trecho de Guarulhos da rodovia, entre Arujá e São Paulo, completam dois anos. A promessa é que os trabalhos sejam concluídos no início do segundo semestre, mas outras promessas de prazos já foram descumpridas ao longo desse período.
Um novo vídeo detalhado do canal Bueno Drone, parceiro do Guarulhos Todo Dia no YouTube, publicado com imagens capturadas em 26 de junho, oferece uma visão aérea atualizada do andamento dos trabalhos, especialmente nas novas alças de acesso e viadutos para a Rodovia Fernão Dias.
O voo destaca o novo sistema de pedágio free flow, que futuramente exigirá pagamento dos usuários que acessarem as faixas expressas. Com os novos viadutos ainda em construção, os motoristas na faixa expressa da rodovia no sentido São Paulo poderão acessar a Avenida Educador Paulo Freire, com destino à Marginal Tietê e Avenida Aricanduva.
Outro ponto de destaque é o viaduto que ligará a Dutra à Fernão Dias. O vídeo mostra paredes de concreto sendo preparadas e um canteiro de obras com movimentação de caminhões e funcionários. No trecho capturado, o trânsito no sentido São Paulo da Fernão Dias aparece bem carregado nas primeiras horas da manhã, enquanto o sentido Belo Horizonte estava livre.
Há um viaduto, quase pronto, com asfalto e iluminação, faltando apenas a sinalização horizontal e vertical, que permitirá o acesso direto à faixa expressa da Dutra, algo que não é possível hoje. Uma segunda alça de acesso, também já asfaltada e com iluminação, está pronta em sua maior parte, mas aguarda a finalização de seu trecho final.
Esta segunda estrutura permitirá que veículos na faixa expressa da Dutra (sentido Rio, vindo de São Paulo) acessem a Fernão Dias (sentido BH), passando por cima da Dutra –um avanço em relação à necessidade atual de utilizar a faixa local para este acesso.
Assista ao vídeo do canal Bueno Drone:
Status da obra na Dutra e previsão de entrega
A CCR RioSP fez mudanças de fornecedores nas obras civis da Via Dutra e essa alteração causou um atraso nos trabalhos, que ficaram praticamente parados entre março e o final de maio. Retomadas há pouco mais de um mês, as atividades continuam causando transtornos aos motoristas que utilizam diariamente a rodovia. Os desvios e bloqueios de faixas pioram ainda mais o trânsito de veículos.
Para concluir a obra, a CCR RioSP precisa entregar os viadutos de acesso à Fernão Dias e Rodovia Hélio Smidt e finalizar as novas pistas expressas. A construção de um novo viaduto para a Ponte do Tatuapé, abertura de novas pistas expressas e alterações no Trevo de Bonsucesso foram concluídas. As obras na Via Dutra estão orçadas em R$ 1,4 bilhão.
A entrega total da infraestrutura já está pelo menos dois meses atrasada em relação à previsão inicial. Logo que iniciou as intervenções, em julho de 2023, a CCR RioSP comunicou que a previsão era concluir as atividades em até 18 meses, ou seja, a entrega completa deveria ter ocorrido no primeiro trimestre de 2025. Porém, o cronograma foi passando por alterações. Agora, após a conclusão da troca de fornecedores, a promessa é finalizar a obra da Via Dutra a partir de julho, no início do segundo semestre deste ano.

O polêmico free flow
Assim que as obras forem concluídas, terá início a operação do free flow, o sistema de pedágio sem cancelas instalado nas pistas expressas em um trecho de 25 quilômetros entre São Paulo (km 230) e Arujá (km 205), com 21 pórticos. Não haverá cobrança de pedágio nas pistas locais/marginais.
A tarifa do free flow deve ser proporcional ao trecho percorrido e dinâmica, variando ao longo do dia com base no volume de tráfego –quanto mais trânsito, mais cara a tarifa. O valor base estimado é de R$ 0,15 por quilômetro, mas o preço exato ainda não foi divulgado. Veículos com tags de pagamento (como Sem Parar e ConectCar) terão cobrança automática; para os demais, a placa será identificada e a cobrança gerada em 48 horas, com prazo de 30 dias para pagamento em canais digitais da concessionária, como o site pedagiodigital.com.
Este modelo de tarifa dinâmica tem gerado controvérsia. O Ministério Público Federal (MPF), por exemplo, considera-o problemático, questionando a justiça tarifária ao cobrar mais caro quando o cidadão mais precisa da via.
O procurador Guilherme Rocha Göpfert defende uma tarifa única e expressou preocupação com um possível aumento insustentável do trânsito na via local se as pistas expressas ficarem muito caras. O MPF tem conduzido um inquérito civil para esclarecer a política tarifária e seus impactos.
Localmente, há uma forte pressão política liderada pelo prefeito de Guarulhos, Lucas Sanches, e vereadores, que buscam isentar veículos emplacados em Guarulhos da cobrança do free flow nas pistas expressas. Uma audiência pública sobre o tema na Câmara Municipal de Guarulhos, em 3 de junho, foi esvaziada pela ausência da CCR RioSP e da ANTT.
Cronograma de implementação do free flow
A CCR RioSP e a ANTT estabeleceram um cronograma de implementação do free flow na Dutra em quatro fases, com duração total de 15 meses, após a conclusão das obras. No entanto, esse cronograma apresentado ao Ministério Público ainda pode sofrer alterações:
- Fase 1 – Duração: 2 meses: Início com a infraestrutura completa liberada. Operação em caráter educativo, sem cobrança de tarifas. Haverá campanhas de conscientização e registro de transações para monitoramento do comportamento dos usuários.
- Fase 2 – Duração: 6 meses: Introdução da cobrança de tarifas fixas programadas. Não haverá aplicação de multas para usuários sem tag que não pagarem em 30 dias, funcionando como um período de esclarecimento.
- Fase 3 – Duração: 6 meses: Manutenção da cobrança das tarifas fixas programadas, mas com aplicação efetiva de multas por evasão de pedágio para quem não pagar em 30 dias. A multa por infração grave é de R$ 195,23 e 5 pontos na CNH. Campanhas educativas focarão nas penalidades.
- Fase Final – Operação Completa (A partir do 15º mês): Gerenciamento integral da cobrança e tarifação por trecho percorrido, conforme o contrato de concessão. Será decidido se a tarifa programada continuará.
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