Uma reintegração de posse cumprida por ordem judicial na manhã desta terça-feira (26) deixou desalojadas cerca de 70 famílias que ocupavam um terreno que pertence à GRU Airport, concessionária que administra o Aeroporto de Guarulhos. Tratores derrubaram os barracos e as casas erguidas no entorno das Malvinas, comunidade construída às margens da Rua Jamil João Zarif. As pessoas que ali moravam precisaram contar com a ajuda de amigos e familiares para ter um teto nos próximos dias.
O processo corria na Justiça de São Paulo há quatro anos. Na ação, a GRU Airport alegou que o terreno desocupado nesta manhã não pode ter moradores, pois as pessoas ali naquele local ficam expostas a eventuais perigos das atividades exercidas no aeroporto, localizado a poucos metros de distância dali.
As famílias foram informadas sobre a reintegração de posse há duas semanas e chegaram a fazer uma manifestação no Aeroporto de Guarulhos recentemente, mas não houve um acordo. Logo no início desta terça (26), a Polícia Militar cercou a região para o cumprimento da decisão. A vizinhança chegou a colocar fogo em objetos durante a ação, mas a reintegração aconteceu sem confrontos.
“Eu pagava R$ 700 de aluguel e tava muito pesado, aí o meu esposo que levantou a casa aqui com muito sacrifício, no sol e na chuva, mas ele levantou. Agora ele foi embora e me deixou com as quatro crianças, fiquei sozinha e desamparada. Só Deus sabe a minha dor”, lamentou Raquel, em conversa com o repórter Lucas Jozino, do SP1. Ela morava havia cerca de um ano no local. Após a reintegração, Raquel e a família ficarão na casa da cunhada, no Ponte Alta.
De acordo com os moradores, ninguém foi cadastrado em programas de governo. “Nós estamos ajudando os moradores a retirar as coisas às pressas das casas deles, preocupados porque [faltam] 30 dias praticamente para o Natal. Eles não tiveram suporte da prefeitura, não tão cadastrados para poder pegar nenhum benefício”, afirmou o líder comunitário Ricardo Vicente, em entrevista à Globo.
O bairro das Malvinas têm cerca de mil residências construídas e cresceu muito durante a pandemia, boa parte dessa “expansão” aconteceu no terreno que foi esvaziado hoje.
O que diz a GRU Airport
Em nota enviada ao Guarulhos Todo Dia, “a Concessionária que administra o Aeroporto Internacional de São Paulo, em Guarulhos, informa que a Justiça está cumprindo hoje, 26/11/2024, a reintegração de posse de área localizada no entorno da Comunidade Malvinas. GRU Airport presta assistência para o transporte e a guarda dos pertences. As famílias que se cadastraram junto à Prefeitura de Guarulhos receberão aluguel social. A Comunidade Malvinas não será afetada”.
Questionada pela reportagem, a concessionária não respondeu se dará algum tipo de uso para o terreno que ficou vazio após a saída das 70 famílias.
O que diz a Prefeitura de Guarulhos
A Prefeitura de Guarulhos disse que não tem nenhuma responsabilidade sobre esse processo de reintegração de posse e que o caso é de responsabilidade da concessionária do aeroporto, mas que trabalha junto ao governo federal e ao Ministério Público para ajudar as famílias afetadas.
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