A Anac (Agência Nacional de Aviação Civil) suspendeu as provas teóricas que são exigidas para licenças e habilitações de profissionais da aviação civil. Segundo comunicado da Anac, a suspensão foi necessária em razão do contingenciamento orçamentário determinado pelo governo federal. O corte de verbas teria exigido medidas de economia. As provas são aplicadas pela FGV (Fundação Getúlio Vargas) e o contrato com a entidade para aplicação dos exames custa cerca de R$ 500 mil por mês.
Sem realizar as provas teóricas, várias categorias profissionais da aviação civil não podem obter as licenças e habilitações necessárias para serem contratados pelas empresas aéreas. Ou, em alguns casos, para terem o direito de continuar trabalhando. Entre as categorias profissionais afetadas estão piloto privado, piloto comercial, piloto de linha aérea, mecânicos de voo, manutenção aeronáutica, despachantes operacionais de voo e instrutores de segurança.
No ano passado foram aplicadas mais de 24.100 provas teóricas. Em 2025 já foram realizadas 11.700 provas. No seu comunicado, a Anac afirma que está estudando alternativas para retomar a aplicação das provas “no prazo mais curto possível e minimizar os impactos da interrupção temporária para os profissionais da aviação civil”.
Impacto em Guarulhos
Guarulhos, por sediar o maior aeroporto do país, é um dos polos de formação de profissionais da aviação civil brasileira. A cidade tem pelo menos três escolas de formação. Uma delas, a Companhia das Asas, está entre as maiores do Brasil. A escola tem cursos de piloto de aeronaves comerciais, piloto de aeronaves privadas, comissários de bordo, mecânicos de aeronave e agente de aeroporto.
Gustavo Ramalho de Oliveira é um instrutor em escolas de formação. Ele calcula que só entre os alunos dele há cerca de 100 profissionais afetados pela suspensão determinada pela Anac. Ele lembra que o momento da suspensão também é extremamente desfavorável. Empresas aéreas têm aberto programas de contratação, que exigem as licenças e habilitações que são obtidas com a realização das provas teóricas. A Latam, por exemplo, abriu inscrições para processo seletivo com 150 vagas para copilotos e 10 vagas para comandantes. As inscrições se encerram no próximo dia 20.
Investimento dos profissionais de aviação civil
Gustavo também lembrou que as profissões da aviação civil atraem muitas pessoas que não têm formação acadêmica completa, mas exige um grande investimento para sua formação técnica. Um investimento não apenas em tempo, mas também em dinheiro. Para pilotos (que no processo seletivo da Latam precisam ter apenas Ensino Médio completo), por exemplo, são exigidas mais de 150 horas de voo, que custam em torno de 150 mil reais. Além de cursos de preparação, que podem custar até 6 mil reais.
Muitos investem todo esse dinheiro porque a perspectiva profissional é favorável. Apesar dos horários e escalas de trabalho alternativos e muitas vezes cansativos, a perspectiva salarial é favorável. Os ganhos de um iniciante como copiloto na aviação comercial começar entre 15 e 25 mil reais por mês. Como comandante, na aviação transoceânica, com anos de experiência, o salário pode chegar a 60 mil reais. Tudo isso fora o “glamour” de conhecer muitos países.
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