Quando pensamos em assistir a um bom filme hoje, numa sala de cinema, geralmente nos vem à mente ir a um shopping center. No entanto, em um passado de algumas décadas atrás, as salas de projeção eram localizadas em pontos comerciais, nas ruas centrais ou em bairros de maior circulação de pessoas, com porta direta para a rua.
Geralmente, era um programa que envolvia certa reverência, com salas mais confortáveis, bilheteiros e porteiros com uniforme. Tinha bomboniere e até um “lanterninha” que nos conduzia aos nossos lugares, quando a sala já estava escura, no início da projeção.
Guarulhos teve vários cinemas que viveram o seu auge, com essas características. Porém, esses locais também passaram pelo oposto, insistindo na sobrevivência em um período de decadência desse tipo de entretenimento.
Muitos vão se lembrar dos Cines Jade (na Vila Galvão), Santo Antônio (na Vila Augusta), São Francisco e Star, na área central da cidade, e o do Padre Bento.
O Cine República
Escolhi escrever um pouquinho sobre o Cine República, que funcionou entre a década de 1930 e 1973, na Rua D. Pedro II, centro de Guarulhos…
Inclusive, quando o Cine República foi fechado, pela baixa frequência, e o seu prédio vendido para a futura loja Pejan, deixou a cidade sem uma sala de projeção durante alguns anos –o Cine Star, do mesmo proprietário, só foi inaugurado em 1975 e o São Francisco, fechado meses antes, só foi reaberto anos depois.
O Cine República foi um dos mais conhecidos e longevos da cidade.
Em 1914 surgiu o Cine Bijou, de Claudino Almeida Barbosa, que pegou fogo em 1918. Ao lado foi construido o Theatro Dom Pedro II, dos irmãos Barbosa, inaugurado em 1922.
Esteve em funcionamento com este nome, até ser adquirido por um jovem de 20 anos, Antônio Pratici, que o reformou e inaugurou em 1935, e que chegou a ter quase 1.000 lugares, após novas ampliações.
Consta no Diário Oficial do Estado de São Paulo o nome de “Cine República”, apenas em 1942.
O cinema do seu Antônio Pratici o deixou tão popular, que foi fundamental para a sua eleição para vereador em três mandatos e nomeação para prefeito de Guarulhos, em 1952.
Após amargar seguidos prejuízos pelo alto custo de manutenção e baixo público, o cinema foi fechado, já decadente, em 1973, com dois filmes na sua despedida: “Eram os Deuses Astronautas” e o faroeste “Bem Vindo Espírito Santo”.
Segue um trecho da matéria que saiu no jornal Folha de São Paulo, em 26 de agosto de 1973, após o fechamento do Cine República:
“Quando as luzes se acenderam e os poucos espectadores deixaram a sala de projeção, num silêncio maior do que outras vezes, Antônio Pratici estava na saída com os olhos cheios de lágrimas. Ele não queria se emocionar, mas foi impossível. Um por um, os velhos amigos fizeram uma pequena fila para abraçá-lo. O gerente, concorrente, o vereador, enquanto o pipoqueiro na rua, ao lado da sua carrocinha, olhava para aquela fila de gente triste, lembrando-se de muitas outras filas que durante anos costumava ver do lado de fora. Foi assim que acabou, no domingo passado, por volta das 11 horas da noite, a última sessão e o último cinema que existia em Guarulhos.”
*Texto de Evanir Baptista Penna, professor, historiador e guia de turismo em Guarulhos – publicado originalmente na página @vc.guarulhos, no Instagram.