O Ministério Público de São Paulo (MPSP) abriu uma investigação para apurar os danos causados a imóveis residenciais pela expansão da Linha 2-Verde do Metrô na zona leste da capital paulista. As obras têm sido associadas ao afundamento do solo e ao surgimento de rachaduras em diversas propriedades na Vila Invernada, perto do Anália Franco. Uma casa está inabitável e outras oito foram interditadas como medida de segurança. Moradores suspeitam que a passagem da tuneladora, popularmente conhecida como “tatuzão”, seja a principal causa dos problemas.
Os transtornos enfrentados pelos moradores são mostrados em reportagens desde o ano passado. O barulho constante, que pode durar 24 horas por dia, inclusive nos fins de semana e feriados, é um dos problemas.
Na Vila Mafra, vizinha ao Complexo Rapadura (nova garagem de trens), uma residência teve um muro com fiações e gás tão danificado que um grande buraco se abriu, exigindo o fechamento do gás e o escoramento de uma escada que corria risco de cair, conforme exibido em reportagem no telejornal SP2, da Globo.
As casas na Vila Invernada foram interditadas a pedido do próprio Metrô devido à extensão das rachaduras, sem previsão de liberação. Quando os problemas estruturais surgiram, a companhia estadual custeou a transferência de seis famílias para hotéis e imóveis alugados, e várias outras saíram por conta própria.
Além disso, a intensa circulação de caminhões na região tem causado problemas no asfalto e no sistema de esgoto das vias.
O MPSP, em inquérito instaurado em 7 de julho, questionou o Metrô se a perfuração, prevista para terminar em novembro de 2024, realmente foi concluída. Os afetados também relatam que, após a conclusão dos trabalhos, o Metrô deveria ter avaliado os danos e devolvido os imóveis em até 30 dias, o que ainda não ocorreu.
O que diz o Metrô
Em resposta à Folha de S. Paulo, que publicou a investigação do Ministério Público em primeira mão, o Metrô confirmou ter ciência da investigação e afirmou que se manifestará dentro do prazo legal. A empresa ressaltou que adota diversas medidas para garantir a segurança e o bem-estar dos moradores das regiões impactadas pelas obras.
Antes do início das escavações, é realizada uma vistoria técnica nos imóveis localizados na área de influência do projeto. Durante a execução das obras, as propriedades são monitoradas para identificar possíveis movimentações ou anormalidades em suas estruturas. Caso seja identificado algum risco, o Metrô realoca temporariamente os moradores para hotéis, oferecendo todo o suporte necessário.
Equipes de comunicação do Metrô e dos consórcios responsáveis acompanham os casos e fornecem apoio aos residentes. Quando há danos, os imóveis são reparados, e os moradores recebem assistência durante todo o processo, retornando às suas residências apenas quando há plena segurança. O Metrô também mencionou que implementa medidas para reduzir ruídos, como rotas definidas para caminhões, uso de barreiras acústicas e horários adequados para a execução das obras.

Expansão da Linha 2-Verde
Apesar dos transtornos, a primeira fase de escavação da Linha 2-Verde foi concluída com sucesso pelo “tatuzão” Cora Coralina no final de maio. A tuneladora chegou ao VSE (Ventilação e Saída de Emergência) Falchi Gianini, seu destino final antes da estação Vila Prudente. Essa etapa inicial cobriu um trajeto de 4,5 km, conectando as estações Orfanato, Santa Clara, Anália Franco, Vila Formosa e o Complexo Rapadura, além de seus poços intermediários.
A máquina, que iniciou as escavações em novembro de 2023 no Complexo Rapadura, é a maior em operação na América Latina, com cerca de 100 metros de comprimento, 2.500 toneladas e uma roda de corte de 11,66 metros de diâmetro. Durante essa fase, foram retirados 394 mil m³ de terra e instalados 2.456 anéis de concreto nos túneis. Agora, o equipamento será desmontado, transportado por carreta para o canteiro da estação Penha, e remontado para iniciar a segunda fase de escavação, um processo que pode levar até 180 dias.
A expansão da Linha 2-Verde é um projeto de grande envergadura, que prevê a adição de 8,4 km de vias e oito novas estações entre Vila Prudente e Penha, com um investimento de R$ 15 bilhões. A previsão é que as quatro primeiras estações (Orfanato, Santa Clara, Anália Franco e Vila Formosa) sejam abertas até 2027, e as demais (Santa Isabel, Guilherme Giorgi, Aricanduva e Penha) em 2028. Após a conclusão desse trecho, a Linha 2-Verde, que hoje vai da Vila Madalena a Vila Prudente, se tornará a mais extensa do sistema, com 23 quilômetros.
Obra em Guarulhos
O projeto seguirá para uma segunda fase de expansão, conectando a estação Penha à futura estação Dutra, localizada ao lado do Internacional Shopping em Guarulhos. Este segmento adicionará 5,8 km à linha e cinco novas estações: Penha de França, Gabriela Mistral e Fernão Dias (na capital), e Ponte Grande e Dutra (em Guarulhos).
Recentemente, o Consórcio CGC (Crasa-Ghella-Consbem) iniciou oficialmente as obras na estação Penha de França, que terá 55 metros de profundidade.
O Metrô já finalizou a avaliação dos imóveis para desapropriação em Guarulhos, mas o início das obras civis depende de trâmites documentais e da conclusão do projeto executivo.
A expectativa é que as obras na cidade tenham início até o ano que vem, e o Metrô já assinou contratos para a construção das estações Ponte Grande e Dutra. Considerando que a construção de uma estação por contrato leva cerca de seis anos, a previsão é que este trecho em Guarulhos dificilmente fique pronto antes de 2031.
Uma nova tuneladora já foi encomendada especificamente para escavar o trecho Penha-Guarulhos, com previsão de início das escavações no primeiro trimestre de 2026.