Símbolo do abandono e da degradação do centro de São Paulo, o Edifício Prestes Maia entrou em uma nova fase nesta segunda-feira (7). O empreendimento que fica na Luz foi recuperado –ou “retrofitado”– pela Prefeitura de SP. Agora, o “Residencial Prestes Maia” tem 287 novas unidades habitacionais que serão ocupadas por famílias que estavam na fila da habitação na capital. Esse é um bom exemplo que vai além da habitação: é a recuperação de um prédio antigo e a ocupação de uma região da cidade que precisa de gente morando, circulando e consumindo para ser revitalizada.
O Prestes Maia foi construído em 1957 para abrigar a Companhia Nacional de Tecidos e passou por diferentes proprietários e utilizações ao longo dos anos. A tecelagem faliu nos anos 1990. Vazio, o edifício foi ocupado em 2002 por famílias sem-teto e tornou-se a maior ocupação vertical do Brasil, abrigando mais de 1.600 pessoas que viviam em moradias improvisadas. Em 2007, o imóvel foi desocupado e os moradores foram incluídos em programas sociais.
No entanto, o local continuou abandonado e sem nenhum tipo de uso. Aos poucos, os andares voltaram a ser ocupados. Como o prédio estava endividado, a prefeitura de São Paulo comprou o imóvel em 2018. O processo de requalificação teve início em 2022.
Moradora do prédio quando era uma ocupação, Maria José da Silva, de 65 anos, voltará a viver no Prestes Maia, mas agora com a nova infraestrutura. “Era muito sofrido, no começo não tinha luz, tínhamos que usar as escadas e usávamos lanternas para iluminar. Eram 21 andares e o pessoal tinha que ir no primeiro andar pegar água para lavar louça, lavar roupa e tomar banho. Vamos voltar para cá com o prédio reformado, bonito do jeito que está, e vou me programar para deixar meu apartamento bem arrumado”, diz.
A obra custou R$ 76 milhões e foi entregue com cerca de um ano de atraso. A reforma foi viabilizada por meio da modalidade Entidades do Programa Pode Entrar, na qual o município arca com os investimentos, enquanto a entidade/empresa se responsabiliza pelo licenciamento e execução do projeto.
Esta modalidade foi criada para atender a uma demanda surgida em 2015. Na época, um chamamento foi realizado pela COHAB-SP para produção habitacional em áreas públicas, com recursos do Governo Federal, por meio do Programa Minha Casa Minha Vida. No entanto, acabou suspenso por falta de recursos. Ao aderir ao Pode Entrar Empresas/Entidades, as associações obtêm recursos para financiar os projetos que estavam parados e que receberiam aportes do Governo Federal.
Desde o início do ano, a Prefeitura já entregou 491 unidades habitacionais por meio dessa modalidade do programa (Residencial Padre Ticão, Residencial Casa Nova e Residencial Santa Bárbara) e 6.620 unidades estão em construção, sendo 4.584 pelo Pode Entrar Entidades e 2.036 pelo Pode Entrar Empresas.
Além do Residencial Prestes Maia e do edifício na Praça da Bandeira, cuja ordem de início foi assinada no começo do ano, mais dois imóveis serão requalificados assim que for concluído o processo de licenciamento: um por meio de Parceria Público-Privada (PPP) e o outro pelo programa Pode Entrar Entidades.

Como ficou o novo Prestes Maia
As 287 unidades estão disponíveis em três configurações, com áreas que variam de 29 m² a 55 m², incluindo kitnets e apartamentos de um e dois dormitórios. O Prestes Maia é composto por duas torres. A primeira, tem 63 apartamentos, divididos entre o térreo e nove pavimentos. A segunda, tem 224 unidades habitacionais, distribuídas no térreo e 20 pavimentos. As torres compartilham subsolo e mezanino.
Um dos benefícios é que o local fica a poucos metros do Metrô. Requalificar prédios do centro de São Paulo é uma medida defendida por especialistas em urbanismo, pois, além de atenuar os problemas de habitação, também ocupa de maneira inteligente uma região fundamental da cidade. São pessoas que podem morar mais perto de onde trabalham. A Prefeitura de São Paulo tem como meta entregar, até 2028, 40 mil moradias em locais com infraestrutura e fácil acesso ao transporte público.
“É possível e necessário morar no centro da cidade. Trabalhador pode morar perto do hospital, perto da UBS, pode morar no centro da cidade, próximo ao terminal, ele pode estar onde todos equipamentos públicos estão”, disse a coordenadora do Movimento de Moradia na Luta por Justiça, Nete Araújo, ao relembrar das dificuldades e da superação vivida pelos habitantes da ocupação. “A gente sempre enxergava adiante, sempre enxergávamos o prédio como ele está agora, todo reformado”.
“Esta entrega traz vários ganhos, o ganho de poder ter essas famílias atendidas com a política habitacional, o ganho da revitalização do centro, poder ter pessoas inclusive trabalhando aqui nos setores de gastronomia, de hotelaria, todos os setores aqui do centro de São Paulo, então estou estou bastante feliz”, disse o prefeito Ricardo Nunes sobre o impacto dos retrofits no Centro da capital.
O que é retrofit?
O “retrofit” vai além da ideia que temos sobre reformas, visto que ele se expande para modernizações e atualizações, como por exemplo, para atender novas normas de acessibilidade.
O ato de “retrofitar” um imóvel se faz necessário quando se pretende preservar o imóvel, como ocorre com edifícios considerados patrimônios históricos. Esse processo viabiliza que áreas com potencial construtivo esgotado sejam reinventadas, tal como vem acontecendo com o centro de São Paulo. Ele também viabiliza melhorias aplicadas, o que consequentemente gera valorização do imóvel. Desse modo, “retrofit” é um sinônimo de “requalificação”.
Atualmente, em São Paulo, a região central da cidade tem recebido diversas medidas e incentivos para que novos retrofits sejam realizados, como o caso do Prestes Maia. Este processo é realizado em conjunto pela Secretaria Municipal de Urbanismo e Licenciamento, SP Urbanismo e pela Casa Civil, que coordena o movimento #TodosPeloCentro, responsável por gerar ações de revitalização do Centro de São Paulo.