Faltam trabalhadores para os supermercados em todo o país. Segundo a Associação Brasileira de Supermercados (Abras) há 357 mil vagas em aberto no Brasil. Em São Paulo, de acordo com a Associação Paulista de Supermercados (Apas) são quase 35 mil vagas a preencher. Em Guarulhos, ainda de acordo com pesquisa da Apas, são 1.661vagas disponíveis. Umas das redes de supermercados na cidade que cresce em ritmo mais rápido vê a situação como “um colapso”.
Silvio Alves, CEO do grupo X Supermercados, afirma que está no ramo de supermercados há 32 anos e nunca viu uma situação parecida. Em entrevista ao Guarulhos Todo Dia, o empresário diz que a falta de mão de obra é hoje o maior gargalo para redes que, como o X Supermercados, estão em expansão. O processo de contratação tem que ser iniciado muito antes da inauguração de uma nova unidade. E contando com a possibilidade de muitos dos contratados não permanecerem no emprego.
Os motivos do apagão
Segundo Silvio Alves, há vários fatores que explicam a carência de mão de obra no setor. Ele acredita que “os auxílios sociais oferecidos pelo governo federal, sem porta de saída”, fazem com que muitas pessoas prefiram não ter um emprego formal e continuar recebendo o auxílio, complementando a renda familiar com “bicos” ou trabalhos informais. Principalmente em atividades como entregador ou motorista por aplicativo.
O CEO do X Supermercados afirma, no entanto, que o fator principal por trás desse problema está na alta carga tributária sobre os empregos. Alves diz que quando os supermercados pagam um salário de 2 mil reais para um funcionário, pode parecer pouco para o trabalhador. Mas o custo dessa vaga para o supermercado é de 4 mil reais, que é muito para a empresa. Um custo extra gerado pela carga de impostos sobre o emprego. As empresas têm dificuldade em aumentar salários em razão desse custo trabalhista, sem repassar os aumentos para os preços dos produtos.
Silvio Alves chama a atenção ainda para a falta de valorização do emprego formal. Muitos trabalhadores das novas gerações não têm informação ou não dão o devido valor para os benefícios de se ter “carteira assinada”. Muitos nem chegam a ficar tempo suficiente no emprego para conhecer benefícios como auxílio-doença, 13º salário, FGTS, salário-família, contagem de tempo para aposentadoria e pensão por morte.
Faltam trabalhadores para quais vagas?
Segundo um levantamento da Confederação Nacional do Comércio e Serviços (CNC), feito para o jornal O Estado de S. Paulo, faltam trabalhadores para oito das dez funções típicas de um supermercado: açougueiros, padeiros, operadores de caixa, embalador, repositor de mercadorias, atendente de loja, vendedor e auxiliar de serviços de alimentação. Segundo o levantamento da Associação Paulista de Supermercados, as funções com maior número de vagas disponíveis no estado de São Paulo são operador de caixa (21%), repositor (17%), açougueiro (13%) e operador de frios e laticínios (11%).
Silvio Alves, CEO do X Supermercados, afirma que em funções como as de açougueiro e padeiro não se consegue formar novos profissionais. Ele critica a falta de iniciativa de entidades do setor, como Abras e Apas, para oferecerem cursos de formação para essas profissões. E afirma que a carência de mão de obra em atividades como estas acaba forçando os supermercados a adotarem alternativas que nem sempre são as preferidas dos consumidores, como a oferta de carne pré-cortada e embalada. Alves acredita que se essa situação não for revertida, atividades como açougueiro, padeiro e confeiteiro entrarão em extinção.
Busca de soluções
Para driblar os impactos da carga tributária sobre os salários, segundo Silvio Alves, os supermercados têm buscado oferecer outros benefícios aos trabalhadores, que não pesem na folha salarial. Reajustes nos valores dos vales refeição e alimentação, melhoria dos planos de saúde e a oferta de bônus por produtividade estão entre as alternativas encontradas.
A Associação Brasileira de Supermercados deve lançar no fim de maio uma plataforma para conectar egressos do Exército a oportunidade de empregos nos supermercados. O objetivo é oferecer aos jovens que cumprirem seu período de convocação obrigatória a preencher alguma das milhares de vagas disponíveis, com registro em carteira.
Já o grupo Carrefour, um dos maiores do setor, fez um acordo de cooperação com o Ministério do Desenvolvimento e Assistência Social, Família e Combate à Fome (MDS), para oferecer qualificação profissional e vagas de emprego para benefícios inscritos no CadÚnico. Desde o início do programa, 32.600 beneficiários foram contratados em todo país, com destaque para a região Sudeste (44,8%). No Piauí, o Carrefour estima que 35 mil pessoas deixem o Bolsa Família graças ao aumento de renda proporcionado pelos novos empregos.
O X Supermercados está com processo de seleção aberto para 256 vagas de emprego em suas unidades.
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