O efeito positivo da proibição de celulares em um grande colégio de Guarulhos

Carbonell já tinha implementado a restrição de aparelhos eletrônicos em ambiente escolar antes mesmo de novas leis entrarem em vigor. Confira os resultados na reportagem.

Vinícius Andrade

redacao@guarulhostododia.com.br

(Fotos: Divulgação/Carbonell)

Publicado em 21/02/2025 às 11:46 / Leia em 8 minutos

Neste ano, entraram em vigor as leis sancionadas pelo governo federal e pelo governo estadual de São Paulo, proibindo o uso de aparelhos eletrônicos portáteis pessoais por estudantes de escolas públicas e particulares. O objetivo é estimular a socialização e o desenvolvimento dos estudantes fora das telas. Aqui em Guarulhos, o Colégio Carbonell começou a trabalhar com a restrição de celulares em ambiente escolar bem antes da nova legislação ser sancionada. E os efeitos percebidos na convivência e no foco às aulas foram bastante positivos.

Em depoimento ao Guarulhos Todo Dia, a mantenedora do Carbonell, Andréa Minichelli Mazoni Lourenço, explica que desde antes da pandemia já tinha sido implementada no colégio a restrição no uso de aparelhos eletrônicos portáteis por alunos de anos iniciais. Sem os acessórios digitais, as crianças interagiam mais entre si e ficavam menos sozinhas.

No entanto, no pós-pandemia, com o retorno das aulas presenciais, a instituição de ensino decidiu permitir a volta controlada dos eletrônicos, acreditando que o colégio poderia ajudar no processo de educação dos alunos para o uso de tablet ou celular de forma responsável. Chegaram até a considerar a criação de uma agenda digital. “Isso faz parte da vida em sociedade depois que eles estão fora da escola”, diz Andréa. A experiência, porém, não saiu como o imaginado.

“Entre 2022 e 2023, nós ficamos bem incomodados ao perceber como os intervalos eram mais silenciosos. As crianças ficavam mais isoladas, os mais tímidos ficavam mais separados ainda do grupo. Eu fui fotografando essas crianças, as que estavam sem celular e as que estavam com celular, então ao longo de 2023 eu fui mostrando em reuniões de pais o quanto estava me incomodando e já discutindo com o time pedagógico que seria uma decisão para 2024 proibir o uso de celular, sempre um pouco preocupada de como isso iria repercutir, como as famílias iriam entender, como as crianças iriam reagir diante disso”.

Andréa Minichelli Mazoni Lourenço, mantenedora do Colégio Carbonell

Apesar da preocupação com a reação de pais e alunos, em 2024 entrou em vigor a proibição de celulares para alunos até o 9º ano no colégio. E o resultado, reforça Andréa, foi excelente. “Foi incrível a quantidade de coisas mágicas que vimos acontecer aqui dentro, com as crianças brincando mais, a escola ficou mais barulhenta e os intervalos mais agitados. Mais vida na escola”, fala.

As famílias aceitaram muito bem a medida, enquanto as crianças, apesar de uma pequena resistência, também entenderam. O combinado é que o aluno que usasse o celular no ambiente escolar teria o aparelho recolhido e entregue para os responsáveis. O uso ficou permitido apenas no hall, nos momentos de entrada e saída. Ficar na tela dentro da sala de aula ou durante o intervalo passou a ser proibido.

Os professores elogiaram a decisão por não terem mais que competir com o celular. Durante os intervalos, perceberam mais crianças conversando, brincando e lendo. “Isso mostrou que a decisão foi acertada”, argumenta a mantenedora do Carbonell.

Além da proibição de celulares, a escola também realizou diversas outras ações, como o recreio dirigido com brinquedos, disponibilizando itens como peteca, bola, elástico e UNO para jogar no intervalo. Inaugurou o Bibliocanto na área de convivência, fez edições de café com a direção para falar sobre os desafios do excesso de telas e lançou o projeto “Zero Telas, Mais Livros”, em que profissionais da instituição vão a condomínios de Guarulhos para fazer contação de histórias.

Projeto Zero Telas, Mais Livros, do Colégio Carbonell Guarulhos
Projeto Zero Telas, Mais Livros, do Colégio Carbonell Guarulhos (Foto: Divulgação)

A medida que o Carbonell adotou no ano passado e que agora todas as escolas do Brasil precisam adotar por causa da nova lei é amparada por diferentes estudos, que apontam que o uso excessivo de telas pode prejudicar o desempenho acadêmico, reduzir a interação social e aumentar índices de ansiedade e depressão entre crianças e adolescentes​. Além disso, a subsituição do celular por um livro para quem está em idade escolar reduz o estresse, melhora o sono, aprimora a empatia e melhora os níveis de atenção.

Andréa Minichelli Mazoni Lourenço conta que até mesmo os conflitos entre os alunos aumentaram fora do universo digital. “Eles não têm mais o celular para se esconder. Eles têm que encarar a vida como ela é, fora da telinha. Isso, de certa forma, também é bom porque estamos aqui para ajudá-los a resolver conflitos, como encaro um amigo para dizer ‘não’, todos os conflitos que envolvem a faixa etária”, diz.

Uma pesquisa realizada pela Nexus em novembro do ano passado revelou que 86% dos brasileiros são a favor de algum tipo de restrição ao uso de celulares em escolas. Um total de 54% apoia a proibição total dos dispositivos, enquanto 32% defendem o uso apenas para atividades pedagógicas, mediante autorização do professor.

Experiência com o Ensino Médio

Até o ano passado, alunos do Ensino Médio do Colégio Carbonell estavam liberados a usar o celular quando fosse necessário para a aula. Segundo a mantenedora da instituição, porém, “eles deixavam o celular na carteira e não conseguiam se controlar quando chegava alguma notificação, perdiam o foco. Isso quando alguns não eram flagrados jogando online durante a aula”.

Antes mesmo das novas legislações estaduais e federais, o colégio há havia decidido que passaria a restringir o uso de aparelhos eletrônicos no prédio do Ensino Médio, mas acreditando que nesse caso a resistência poderia ser maior por envolver adolescentes.

“A proibição foi favorável porque adolescente resiste e tem mais poder de argumentação. A lei veio a contribuir, mas a gente já iria decidir por isso. Os professores têm elogiado e os alunos não discutem mais. Nós não adotamos a caixinha ou o lugar para deixar o celular, eu não acredito nisso. Acho que é uma responsabilidade a mais para escola, acredito que eles precisam ter esse controle. É desligado dentro da mochila, não pode nem levar no bolso, cada um com a responsabilidade de cuidar do seu celular. Até hoje, não tivemos problemas. Eu acredito muito que preciso desenvolver responsabilidade e controle deles. Se ficar sobre a mesa, eles não vão ter controle, mas desligado dentro da mochila está funcionando bem e os professores têm elogiado. Tenho percebido que eles estão mais focados”.

Andréa Minichelli Mazoni Lourenço, mantenedora do Colégio Carbonell

Outros exemplos positivos em Guarulhos

A reportagem também conheceu duas outras experiências de escolas associadas da AEG (Associação das Escolas Particulares de Guarulhos e Região). No Colégio Guilherme de Almeida, desde o ano passado os alunos do Ensino Fundamental 1 não podiam levar celular para a escola e os do Fundamental 2 tinham que deixar na mala desligado, sendo liberado apenas durante os intervalos. O Ensino Médio não tinha restrições pelo fato de ter um uso intenso por parte dos professores em atividades pedagógicas.

Luiz Ikeda, diretor pedagógico do Colégio Guilherme de Almeida, explica que, para substituir o uso, antes da nova lei, a instituição implementou jogos de tabuleiro nos intervalos, rodas de leitura, ciranda de livros e, na última semana de cada mês em alguns intervalos, show de talentos, onde os alunos que quiserem fazem apresentações musicais para os demais.

Sala de Tecnologia, no Colégio Jardim Paulista de Guarulhos
Sala de Tecnologia, no Colégio Jardim Paulista de Guarulhos (Foto: Divulgação)

Já o Colégio Jardim Paulista explica que, como a lei prevê uso de celular para uso pedagógico, decidiu montar uma sala específica com essa finalidade. Os professores tem que incluir essa experiência dentro do planejamento pedagógico e comunicar que naquele dia o celular será liberado, mas somente dentro da Sala de Tecnologia. “Montei uma sala, que é a sala de Tecnologia, onde o professor vai colocar o conteúdo que ele precisa usar no celular e é agendada essa sala para uso, podendo usar o celular nesse ambiente”, diz a diretora Jane Barradas.

LEIA TAMBÉM:

Compartilhe!!

Siga o Guarulhos Todo Dia

Siga no Google News

VEJA ALTERNATIVAS

Trânsito na Paulo Faccini será fechado no dia do Bloco Banda Bicha com Claudia Leitte

PROGRAMAÇÃO

Guia com 10 opções de blocos de Carnaval em SP nos dias 22 e 23 de fevereiro

INFORMAÇÃO

Por desfile de Carnaval, Bosque Maia fecha mais cedo neste sábado

ÍNDICE FIPEZAP

O preço do metro quadrado dos imóveis de Guarulhos: aluguel e compra

LOTE ALTO TIETÊ

Concessionária da Via Dutra, CCR avalia disputar leilão que inclui expansão de trem até Bonsucesso

TURISMO

Cidade de águas termais, Olímpia constrói aeroporto e atrai mais turistas com multipropriedade

PREVENÇÃO

Vacinação contra a febre amarela é fundamental antes de viagens no Carnaval

BENEFÍCIO

Tarifa Social: você pode ter direito a pagar menos na conta de luz em Guarulhos

TRABALHO

Emprego em Guarulhos: Panco está com 30 vagas abertas para auxiliar de produção

REPORTAGEM

E o Parque Industrial e Tecnológico de Guarulhos?

PESQUISA DO METRÔ

Guarulhos tem os moradores que passam mais tempo por dia no transporte coletivo

COLUNA MABI POR AÍ

PETAR: Tudo sobre o parque estadual com mais de 300 cavernas no sul de São Paulo