Sem cura e sem formas de prevenção, o lipedema recebeu um código no Cadastro Internacional de Doenças somente em 2022, por isso é algo ainda tão pouco conhecido. No entanto, é um diagnóstico que atinge mais de 10% das mulheres no mundo –no Brasil, estima-se que cerca de 9 milhões convivam com o problema. Recentemente, famosas como a influenciadora Yasmin Brunet e a repórter Juliane Massaoka revelaram que tem lipedema e estão realizando tratamento. Mas o que é a doença? A coluna GTD Saúde desta semana explica.
Essa é uma condição crônica e progressiva, que causa acúmulo excessivo e desproporcional de gordura nas pernas, coxas e, em menos casos, nos braços. “As pessoas afetadas com essa doença geralmente têm uma aparência característica de pernas pesadas e inchadas, enquanto os pés e as mãos permanecem preservados”, explica a doutora Fernanda Maniero, coordenadora do curso de Nutrição da Faculdade Anhanguera e nutricionista do Instituto Lipedema Brasil.
“Em alguns casos, é confundido com obesidade, sobrepeso, linfedema ou insuficiência venosa, mas é importante destacar que o Lipedema não é causado por excesso de peso ou hábitos alimentares inadequados, sendo necessário alguns exames para facilitar a compreensão das condições de saúde do paciente”, reforça a especialista.
Armando Lobato, presidente da Sociedade Brasileira de Angiologia e Cirurgia Vascular, disse em entrevista ao Fantástico que essa é uma doença 95% relacionada às mulheres, mas há casos também em homens. “Acredita-se que esteja relacionada à genética e também a fatores hormonais. Em torno de 60% das mulheres com lipedema têm algum familiar, a mãe, tia, irmã, que tenha também o lipedema. Ele tem três gatilhos: quando a pessoa entra na puberdade, ela tem a primeira menstruação, na gravidez e na menopausa”, explica
Existem cinco tipos de lipedema:
- tipo 1 pega quadril, nádegas;
- tipo 2 vai quadril, nádegas e coxa – o mais comum;
- tipo 3 pega quadril, nádegas, coxa e perna;
- tipo 4 pode acometer o braço;
- tipo 5, que só acomete a batata da perna.
Impactos do lipedema
O lipedema pode trazer várias dificuldades e impactos para as mulheres que são afetadas por essa condição. A nutricionista Fernanda Maniero ressalta que as principais dificuldades e impactos da condição para as mulheres são as alterações estéticas significativas, dor, hematomas e desconforto das áreas afetadas, limitações nas escolhas das roupas e atividades sociais e problemas de saúde mental com a autoestima. “À medida que a doença progride, a gordura acumulada pode levar também a complicações como problemas articulares e dificuldade de mobilidade”, diz.
Por ser uma condição que passou a ter código de doença há pouco tempo, ainda existem estudos em andamento. No entanto, há evidências iniciais que indicam que os hormônios desempenham um papel importante na progressão do lipedema.
“Os hormônios sexuais, como estrogênio e progesterona, parecem ter um impacto significativo no desenvolvimento dessa condição. Durante a puberdade, gestação e menopausa, é comum que essa doença se manifeste ou piore. Isso sugere que flutuações hormonais podem desencadear ou agravar o caso”.
Dr.ª Fernanda Maniero, coordenadora do curso de Nutrição da Faculdade Anhanguera
Um dos problemas é que a doença ainda é uma condição pouco conhecida e frequentemente subdiagnosticada. “Muitas mulheres enfrentam dificuldades para obter um diagnóstico correto, o que pode levar à sensação de não serem compreendidas ou levadas a sério pelos profissionais de saúde”, argumenta a nutricionista.
Não tem cura, mas tem tratamento
O lipedema não tem cura nem formas de prevenção conhecidas, pois existe a influência genética. No entanto, algumas medidas podem ajudar a reduzir o risco de agravamento para melhorar o bem-estar das pessoas que já têm a condição. Quanto ao tratamento, o objetivo é aliviar os sintomas, reduzir o acúmulo de gordura e melhorar a qualidade de vida.
“É fundamental que o tratamento do Lipedema seja abordado de forma individualizada, com o acompanhamento de uma equipe de profissionais de saúde especializados, como médicos, dermatologistas, cirurgiões vasculares, fisioterapeutas e nutricionistas. Cada caso é único, e o tratamento deve ser adaptado às necessidades específicas de cada pessoa”, defende a especialista.
Fernanda Maniero, que também faz parte da equipe do Instituto Lipedema Brasil, elencou algumas formas de prevenção e tratamento:
- Diagnóstico precoce: Identificar a condição cedo é crucial para iniciar o tratamento adequado o mais cedo possível.
- Alimentação saudável: Uma dieta equilibrada ajuda a controlar o peso e evitar o acúmulo de gordura.
- Atividade física: Exercícios regulares melhoram a circulação e a saúde cardiovascular.
- Terapia física: Drenagem linfática e outras técnicas reduzem o inchaço e melhoram a circulação.
- Compressão: Roupas especiais de compressão ajudam a reduzir o inchaço e melhorar a circulação sanguínea.
- Medicamentos: Em alguns casos, medicamentos aliviam sintomas como dor e inflamação.
- Tratamento cirúrgico/lipo: Em estágios avançados, a cirurgia pode ser considerada para remover o excesso de gordura e melhorar a forma das pernas e braços, mas é indicado somente depois das tentativas de tratamentos anteriores desta lista.
Ao Fantástico, o Ministério da Saúde disse que “o tratamento do lipedema no SUS está previsto na Política Nacional de Atenção Hospitalar de Média e Alta Complexidade e seu tratamento inclui procedimentos como ultrassonografia vascular, atendimento fisioterapêutico, consulta especializada e dermolipectomia”, que é a cirurgia de retirada de pele e gordura.
Uma dica importante!
O campus Marte da Faculdade Anhanguera, que fica em Santana (Av. Braz Leme, 3029), na zona norte de São Paulo, tem atendimentos nutricionais gratuitos em prol desse diagnóstico, de segunda a sexta, das 13h30 às 18h30, e de segunda a quarta, das 7h30 às 10h30. Para ter acesso ao serviço é necessário inscrição prévia para chamada de triagem e avaliação do caso, os interessados devem entrar em contato pelo telefone/WhatsApp (11) 2972-9047 ou por e-mail clinicaescola.nutri@gmail.com.