Uma das novelas políticas de Guarulhos que se arrasta há mais de 15 anos é a da construção de um Parque Tecnológico na cidade. O capítulo mais recente é de janeiro de 2024, quando o governo do então prefeito Guti anunciou o seguinte: “Prefeitura lança o Parque Industrial e Tecnológico de Guarulhos”. A informação foi divulgada no site oficial do município, saiu na imprensa, teve vídeo publicado no Instagram e evento com secretariado. Porém, até agora nada foi feito. O terreno de mais de 125 mil metros quadrados continua lá, do mesmo jeito: vazio e sem uso.
As discussões para a construção de um empreendimento como esse em Guarulhos começaram ainda durante a gestão do então prefeito Sebastião Almeida, no início dos anos 2010. Em 2015, a prefeitura chegou a fazer exatamente a mesma coisa que fez em 2024: depois de aprovar um Projeto de Lei na Câmara, realizou um evento para anunciar que o município teria um Parque Tecnológico.
Na ocasião, antes da era dos políticos que usam redes sociais como palanque principal, teve discurso de Almeida, apresentação do projeto em Power Point e a confirmação via decreto de que a gestão seria realizada pela Agende (Agência de Desenvolvimento e Inovação de Guarulhos), uma Organização da Sociedade Civil de Interesse Público com trabalho positivamente reconhecido entre o empresariado da cidade.

No entanto, o investimento esperado não chegou, o governo mudou e, em 2018, Guti decidiu revogar o decreto que concedia à Agende a gestão do Parque Tecnológico. Depois disso, durante os seis anos seguintes que teve de mandato, Guti fazia promessas de que a prefeitura tiraria do papel esse projeto. A promessa era sempre para o ano seguinte. Em 2019, disse que seria viabilizado em 2020. Em 2021, falou que o empreendimento entraria em operação em 2022. Mas os prazos não foram cumpridos.
Até que, em 2023, o Poder Executivo municipal enviou um novo Projeto de Lei para a Câmara. Basicamente, o texto “autoriza a criação do Parque Industrial e Tecnológico de Guarulhos e a concessão de direito real de uso das áreas para sua implantação, revoga a Lei nº 7.395, de 7/7/2015 [aquela do governo Almeida”.
Os vereadores aprovaram o projeto e então entrou em vigor a Lei 8.231/2024. Segundo o texto, a área destinada ao Parque Industrial e Tecnológico é de 252.895,10 m², sendo 110.635,27 m² de domínio do município e 142.259,83 m² do governo do estado, objeto de cessão de direito real de uso por dívidas de IPTU da extinta DERSA.
Em 2014, o então governador Geraldo Alckmin havia assinado a transferência de áreas do Estado para o município de Guarulhos, justamente para viabilizar a instalação do parque tecnológico. Foi transferida ao município a propriedade de uma área de 125 mil metros quadrados no Jardim Santa Helena, justamente essa que agora pode ser usada para a chegada de futuras indústrias, e a cessão não onerosa de outro terreno, que pertence à Dersa.
“A iniciativa do Estado em ceder a área ao município é uma forma de incentivar a construção de centros de conhecimentos e de fomento à ciência e tecnologia”, justificou o governo estadual, na ocasião.
O terreno fica na região de Cumbica, em uma localização bastante estratégica: a quatro quilômetros do Aeroporto Internacional, a um quilômetro de distância da Via Dutra e a seis da Ayrton Senna. Bem ao lado de um condomínio logístico que abriga grandes empresas.
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Mudanças no projeto
A demora para tirar o Parque Tecnológico do papel também provocou alterações na ideia. O último Projeto de Lei aprovado sobre o tema foi baseado numa sugestão de Maurício Colin, diretor titular do CIESP (Centro das Indústrias do Estado de São Paulo) Guarulhos, ao ex-prefeito Guti.
Em entrevista recente ao Guarulhos Todo Dia, o executivo explicou que um Parque Tecnológico sozinho pode não ter capacidade para se bancar, enquanto a proposta de ter um condomínio industrial no empreendimento tende a atrair mais empresas para a cidade, que atualmente sofre com escassez de áreas disponíveis para expansão industrial. E a instalação dessas empresas bancaria o Parque Tecnológico.
“Eu gostaria que a área fosse destinada às indústrias, criado um condomínio e deixasse um espaço para um parque tecnológico pequeno, de 20 mil metros quadrados, temos que pensar um número e estudar em conjunto. Isso é uma discussão que deveria estar a academia, a população, os representantes de classe e o governo, para juntos a gente decidir o melhor destino. Então, estava acertado com o Guti, eu tinha proposto a ele, eu sugeri, dei a ideia para ele de transformar isso quase que num condomínio industrial, deixando parte para um parque tecnológico, que poderia ser bancado por esses que ganhariam essa área”.
Maurício Colin, diretor titular do CIESP Guarulhos
Ao lançar o projeto, Guti explicou que as indústrias interessadas não pagariam pela área nem pelo aluguel. O IPTU também seria isento. “Agora, com a nova lei, a gente vai poder fazer um parque industrial e gerar milhares de empregos nessa região. Nesse novo Parque Industrial, nós temos 125 mil metros quadrados, onde as empresas podem se instalar participando de um chamamento. Quem vencer fica com seu pedaço de terra, edifica e faz a mágica do desenvolvimento econômico acontecer, gerando emprego, renda e divisas para o nosso município”, falou o político, em vídeo publicado em 11 de janeiro.
A ideia é boa, pois a previsão é de gerar mais de 3 mil novos empregos para Guarulhos, tendo como contrapartida o aquecimento da atividade econômica, industrial e tecnológica. “O governo não teria que pegar dinheiro do povo para um Parque Tecnológico. O próprio condomínio se bancaria”, defende Maurício Colin.
As empresas interessadas deveriam submeter seus projetos à Secretaria de Desenvolvimento Científico, Econômico, Tecnológico e de Inovação. Os vencedores recebem direito aos benefícios do programa.
O problema, porém, é que durante o último ano do governo Guti o chamado “novo sistema de inovação de Guarulhos” não avançou. O diretor do CIESP ainda não teve uma conversa com o atual prefeito Lucas Sanches, mas diz que a continuidade desse projeto é uma das demandas que apresentará ao chefe do Executivo municipal.
“Um dos itens que eu vou questioná-lo é se ele vai dar continuidade a esse projeto, que é usar essa área, que era destinada a princípio para o parque, para um mix. Eu sou a favor do parque e todo entorno, trazer indústria nova para Guarulhos, tecnologia nova para Guarulhos”, defende o executivo. “Nós temos que trazer novas tecnologias aqui para dentro. Então, por que não pegar essa área, destinar uma parte ao parque [tecnológico] e trazer aquilo que nós não temos da indústria aqui, uma indústria de uma tecnologia diferente?”, questiona Colin.
Se a atual gestão da Prefeitura de Guarulhos tiver uma atualização sobre o Parque Industrial e Tecnológico, o espaço do Guarulhos Todo Dia está aberto para informar os planos para tirar esse projeto do papel.
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