A imagem que ilustra este texto é de um projeto que não deu certo para construir o estádio do Corinthians em um terreno às margens da rodovia Ayrton Senna, bem no limite entre Guarulhos e São Paulo. As discussões para a cidade ser a casa do Timão chegaram a ficar avançadas em 2010, mas a possibilidade de construir o estádio próprio em Itaquera, ao lado do Metrô, fez com que o plano Guarulhos fosse deixado de lado. O GTD te explica melhor essa história ao longo deste texto.
Enquanto cidades da região metropolitana de São Paulo, como Barueri, Osasco, Diadema, São Bernardo, Santo André e São Caetano, têm ou já tiveram times nos campeonatos mais importantes do estado e até do Brasil, Guarulhos assiste a tudo da “arquibancada”.
A Arena Barueri, concedida pela prefeitura a uma das empresas de Leila Pereira, presidente do Palmeiras, virou a segunda casa do Alviverde quando Allianz Parque não pode receber jogos do clube.
São Bernardo, com o seu Estádio Municipal 1° de Maio para mais de 12 mil torcedores, recebe frequentemente jogos do time local em competições como o Paulistão e a Copa do Brasil. Santo André e São Caetano tiveram equipes disputando e vencendo competições de elite nos anos 2000. Diadema tem o Água Santa.
Guarulhos nunca sentiu esse gosto. No início deste ano, quando o Flamengo de Guarulhos conseguiu chegar às oitavas de final da Copa São Paulo, precisou, por decisão da Federação Paulista, mandar o jogo contra o Vasco para o Estádio Municipal José Liberatti, em Osasco. Guarulhos não tem um estádio com a infraestrutura necessária para um jogo como esse. Uma verdadeira humilhação para a segunda cidade mais populosa do estado de São Paulo e uma das principais economias do país.

O maior estádio de Guarulhos
Guarulhos é uma cidade de tradição no futebol amador e de base, com oportunidades para crianças e adolescentes que sonham em seguir carreira no esporte. O Flamengo de Guarulhos e a A.D. Guarulhos são exemplos de clubes com um trabalho sério nesse sentido. Há milhares de pessoas que podem dizer que já jogaram ou fizeram as chamadas peneiras em um desses dois clubes.
No entanto, o futebol profissional de elite não é bem desenvolvido em Guarulhos. Além da falta de incentivo, um problema é ausência de infraestrutura. Se Guarulhos tivesse um time em algum dos principais campeonatos de São Paulo, precisaria mandar seus jogos fora da cidade.
O motivo? O maior estádio do município, o Antônio Soares de Oliveira, no Jardim Tranquilidade, não atende aos requisitos de capacidade, estrutura para transmissões de TV, segurança, acessibilidade e vestiários. Foi por esse motivo que um jogo de oitavas de final da Copinha teve que ser mudado para Osasco.
A capacidade atual autorizada do estádio do Flamengo de Guarulhos é de 4.093 pessoas. Poderia até ser mais gente, se uma das arquibancadas laterais não estivesse interditada por falta do certificado AVCB, o Auto de Vistoria do Corpo de Bombeiros.

Já faz um tempo que essa arquibancada serve somente para exibir os patrocinadores do clube e mostrar o placar do jogo –e é o “placar raiz”, com um funcionário responsável por fazer as marcações.
O estádio administrado pelo Flamengo de Guarulhos é da Prefeitura de Guarulhos, que chegou a tentar viabilizar projetos de modernização do local em 2019, mas ficou só na tentativa.
O Guarulhos Todo Dia pediu para a ferramenta de inteligência artificial ChatGPT fazer uma simulação de como seria o Antônio Soares de Oliveira se fosse uma arena multiuso com capacidade para cerca de 15 mil pessoas. É claro que um projeto como esse exige estudos técnicos de impacto ambientais, de mobilidade e de engenharia, mas fica como curiosidade. Afinal, sonhar não custa nada, mas tirar um projeto desse do papel custaria milhões de reais.
Confira as projeções abaixo, algumas mais modestas e outras mais ambiciosas:




Por que Corinthians desistiu do estádio em Guarulhos?
Em 2010, o Corinthians esteve perto de construir seu estádio em Guarulhos. Entre as opções analisadas pela diretoria na gestão de Andrés Sanchez, um dos projetos mais avançados previa a construção de uma arena às margens da Rodovia Ayrton Senna.
O projeto, apresentado com maquetes e imagens em 3D, previa um estádio com capacidade para 56.200 torcedores, distribuídos em uma área de cerca de 100 mil metros quadrados. O complexo ficaria estrategicamente localizado entre os municípios de São Paulo e Guarulhos, com parte do estacionamento projetada para o lado paulistano o estádio em si em solo guarulhense.
A construção teria o apoio financeiro do banco Banif, que prometia um investimento de R$ 100 milhões. O restante, orçado em cerca de R$ 340 milhões no total, seria levantado com empréstimos internacionais e parcerias com as construtoras Hochtief e EIT.
A prefeitura de Guarulhos, comandada na época por Sebastião Almeida (que era do PT), também demonstrava apoio institucional. Reuniões entre dirigentes do clube e representantes da administração municipal ocorreram para discutir incentivos e ajustes no plano diretor da cidade. A localização, próxima ao Aeroporto Internacional de Guarulhos, era vista como estratégica para atrair público e visibilidade.
O projeto, no entanto, enfrentava obstáculos. O terreno escolhido exigia adaptações no zoneamento urbano e enfrentava questões de licenciamento ambiental. Além disso, havia dificuldades em garantir a infraestrutura de acesso viário e transporte público, que até hoje ainda é limitada na região.
Itaquera ganhou força com apoio político e incentivos fiscais
A virada de rumo aconteceu ainda em 2010, quando o governo federal, o governo do estado de São Paulo e a prefeitura da capital passaram a pressionar o Corinthians para escolher Itaquera como sede de seu estádio, já pensando em atender aos requisitos da Copa do Mundo de 2014.
O projeto em Itaquera, até então visto como plano B, passou a ser viável graças a um pacote de incentivos fiscais da prefeitura de São Paulo, além da inclusão no caderno de encargos da Fifa como futuro estádio da abertura do Mundial.
Com a visibilidade e o apoio político crescendo por Itaquera, o projeto de Guarulhos foi abandonado oficialmente. A diretoria corintiana entendeu que a escolha na zona leste da capital paulistana traria benefícios financeiros, logísticos e de marketing muito maiores.
A Neo Química Arena é um estádio bem sucedido do ponto de vista esportivo e de infraestrutura, sendo usado inclusive como a principal casa da Seleção Brasileira em São Paulo, mas o Corinthians ainda tenta pagar a dívida com a Caixa Econômica Federal referente ao estádio. O time conta, inclusive, com o apoio da torcida para quitar os débitos.
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