Beco do Robin: Como um morador de Guarulhos usa a arte de rua para transformar um bairro

Guarulhos Todo Dia visitou a viela que virou uma galeria de arte a céu aberto e conversou com Robson Ferreira. Iniciativa causou impacto positivo em escola na região.

Vinícius Andrade

redacao@guarulhostododia.com.br

Vinícius Andrade/Guarulhos Todo Dia

Publicado em 28/11/2024 às 14:58 / Leia em 5 minutos

Quem passa pelo Anel Viário, no caminho entre a Vila Galvão e o Gopoúva, talvez nem imagine que ali ao lado há uma grande galeria de arte a céu aberto. Um projeto que não partiu do poder público, do setor privado e tampouco de alguma ONG, mas sim da ideia de um morador da Rua Diva, no Jardim Santa Francisca. O técnico em Segurança do Trabalho Robson Ferreira dos Santos, 47 anos, teve a iniciativa de dar um novo uso para uma viela abandonada e degradada no bairro. O local, antes frequentado por usuários de drogas e usado para descarte irregular de lixo, foi revitalizado e virou o Beco do Robin.

Agora, o espaço serve como uma passagem diária segura para mães e alunos que frequentam a escola municipal Izolina Alves David, na rua Diva. Tudo feito através da arte. O trabalho solitário de Robson, inicialmente solitário, começou em junho de 2020, ainda durante a pandemia, quando ele percebeu que a viela abandonado tinha potencial.

“Peguei uma vassoura, comecei a varrer e vi que isso aqui tinha possibilidades. Pensei em fazer uma galeria a céu aberto, mas ainda tudo na minha cabeça. Corri atrás de apoiadores, de lojas de tinta e pedi para a vizinhança. No começo, o pessoal me achava o louco, mas hoje a gente conseguiu trazer mais de 150 artistas para cá, para exibirem as suas artes e colaborarem”, diz ele, em entrevista ao Guarulhos Todo Dia, que visitou o Beco do Robin para fazer a reportagem.

Robson no início dos trabalhos de limpeza e conservação da viela
Robson no início dos trabalhos de limpeza e conservação da viela (Foto: Arquivo Pessoal)

O nome para a viela é inspirado no Beco do Batman, o “primo rico e famoso”, que é uma atração turística consolidada no bairro da Vila Madalena, na capital paulista.

“Sou vizinho aqui do Beco do Robin, moro aqui na Rua Diva. Sempre gostei de arte, sempre curti o Beco do Batman. Eu morava na zona sul de São Paulo, estou aqui em Guarulhos há dez anos. Sempre curti a arte, sempre gostei, mas com o dia a dia e a correria do trabalho a gente acaba deixando de lado. Aqui eu vi a necessidade e acabei soltando os meus dotes também. Eu era o cara que fazia os trabalhos da escola, fazia artes para minha sobrinha, para a minha filha e aqui virou um ponto, uma tela a céu aberto para a galera poder se divertir e conversar”.

Durante a empreitada, Robson encontrou parceiros que tem o ajudado a transformar a realidade do local, entre eles o artista Sully.Artt e o professor Evanir Penna.

“Tudo isso aqui é ação social. Um e outro ajuda com um valor para lata, para tinta, mas ainda não temos o apoio fixo para poder estar renovando sempre. Tem umas artes que vão ficando degradadas e a gente precisa renovar, então de uma ideia da cabeça de um a ideia se multiplicou, a galera abraçou”, diz o responsável pela transformação do local.

Evanir Penna (à esq.), Robson Ferreira e Sully.Artt (Foto: Arquivo Pessoal)

Impacto positivo no bairro

Quem entra na Rua Diva no acesso pela Rua Gopoúva já percebe logo de cara que está na área do Beco do Robin. Além dos muros da Rua Diva e da própria viela recuperada, muitas artes também podem ser vistas na Rua Segundo Sargento Rubens Leite, onde moradores cedem os muros de suas residências para os artistas fazerem o seu trabalho. No início, muitos vizinhos ficaram desconfiados com a iniciativa, mas aos poucos a aceitação têm crescido.

Robson não tem uma renda pelo trabalho que faz no Beco do Robin. Vive de alguns bicos que consegue a partir das diferentes funções que exerce, muitas delas agora ligadas à arte. “A gente precisa de apoio, tanto de material quanto para manter esse lugar limpo. É difícil. Todo fim de semana ou então quando não estou fazendo bicos, eu venho aqui varrer, manter e conversar com as pessoas, para elas entenderem o objetivo real daqui. Ser um caminho melhor para as mães, para as crianças passarem para a escola e os moradores terem uma galeria a céu aberto de graça”.

O antes e depois do Beco do Robin

Para o futuro, ele sonha que o espaço tenha um café, uma livraria ou um local de convivência fixo, com um apoio financeiro de forma regular. Atualmente, Robson e seus parceiros organizam alguns eventos esporádicos com escolas e outras entidades, mas não existe uma programação fixa nem um ponto que venda bebidas e comidas no local, o que aumentaria a visitação e o tempo de permanência das pessoas ali.

“A viela já se transformou nas cores e está ativa. O que eu busco aqui é trazer mais artes para cá, seja um minicinema, teatro, troca de gibi, de livros, que a viela sempre tenha alguma ação, alguma coisa para não ficar degradada”, projeta.

Abaixo, assista também ao episódio do programa Visite GRU sobre o Beco do Robin:

Beco do Robin

Endereço: Rua Diva, 238 – Parque Santo Antônio (região de Torres Tibagy/Gopoúva) – Guarulhos, SP

Quem tiver interesse em apoiar, incentivar ou conhecer o Beco do Robin, siga o Instagram @beco.do.robin. Boas iniciativas em Guarulhos devem ser valorizadas e conhecidas!

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