A rua Doutor Ramos de Azevedo é uma das importantes vias do centro de Guarulhos. Tem prédio comercial, residencial, estacionamentos, comércios, pontos de ônibus e dois hotéis: um deles está em pleno funcionamento, já o outro não tem uso há pelo menos 24 anos. O que está aberto é o Monreale Hotel Plus, na altura do número 88, e que funciona em um prédio de 13 andares e fachada envidraçada. Com diárias acima de R$ 350, tem nos passageiros do Aeroporto Internacional o seu principal público de hóspedes. Ali na mesma calçada, praticamente ao lado, no número 132, tem um edifício abandonado de quatro andares que guarda parte da história da hotelaria de Guarulhos.
No endereço, começou a funcionar ainda nos anos 1960 o Palácio Hotel, que alguns também chamavam de Palacete Hotel. É uma construção com cerca de 60 anos de existência.
A estrutura é relativamente simples e até acanhada. Olhares mais desatentos podem nem perceber o predinho abandonado na rua. Mas a arquitetura é bastante interessante. O tamanho e o estilo são bem diferentes dos grandes e imponentes hotéis que a cidade começou a receber a partir da segunda metade da década de 1980, depois da inauguração do Aeroporto de Guarulhos.
Nos anos 60, quando o Palácio Hotel foi aberto, era o Tramway da Cantareira (ou Estrada de Ferro Cantareira) que gerava movimento intenso na região central de Guarulhos. Bem no centrão do município, existia uma estação ferroviária que fazia parte do sistema de trens urbanos de São Paulo. Os trens transportavam cargas e passageiros. O Tramway, no entanto, foi desativado em 1965.
A história do hotel da rua Doutor Ramos de Azevedo não foi muito bem documentada, mas Guarulhos tem excelentes pesquisadores e historiadores, que se dedicam a manter vivo o passado da segunda maior cidade de São Paulo.
O Guarulhos Todo Dia conversou com um desses profissionais: o professor Evanir Baptista Penna, que é historiador e guia de turismo. Ele tem uma empresa de turismo pedagógico e fala sobre curiosidades do município na página @vc.guarulhos, no Instagram. Além disso, é um dos parceiros da Associação Amigos do Patrimônio e Arquivo Histórico (AAPAH) de Guarulhos.
Abaixo, reproduzimos trechos da entrevista que fizemos com o professor Evanir sobre o Palácio Hotel.
Quando o Palácio Hotel Guarulhos foi inaugurado?
Início da década de 1960. “Conversando com algumas pessoas, tive a informação que foi inaugurado em 1961, mas o seu CNPJ traz 1966 como início das atividades. Em uma imagem aérea do centro de Guarulhos, feita em 1958, não aparece essa edificação, por isso, provavelmente foi construído para ser mesmo o hotel”, diz o professor Evanir.
A empresa “Palacio Hotel de Guarulhos LTDA” foi aberta em 12 de julho de 1966. Atualmente, a empresa está como “inapta”. Não há informações sobre os proprietários do negócio.
Da abertura ao encerramento das atividades
O historiador reforça que o hotel viveu os tempos áureos nos anos 60, quando funcionava o Tramway da Cantareira na região central de Guarulhos.
“Na década de 80, como tentativa de sobrevivência econômica, a empresa proprietária do local tentou alugar os quartos como moradia de aluguel mensal, mas não deu muito certo, pois ele fechou pouco tempo depois. Teve funcionamento até o final da década de 1990 –provavelmente 1999– já que em 2000 já estava desativado.”
Evanir Baptista Penna, historiador e professor
O que fazer com o prédio do Palácio Hotel Guarulhos?
O edifício não é tombado pelo patrimônio histórico. Apesar do estado de abandono, não dá para dizer que o prédio está completamente sem manutenção. Prova disso é que a parte externa foi pintada nos últimos anos. A reforma aconteceu entre 2019 e 2020, quando algumas casas e comércios que funcionavam ao lado foram demolidos para virar um estacionamento.
Veja o antes e depois nas imagens abaixo (retiradas do Google Street View):
O professor Evanir Penna explica que, no início dos anos 2000, um grupo de artistas invadiu o local, que já estava abandonado, e tentou criar ali uma galeria de artes e cultura, com ateliês, lojas e um bar com música ao vivo no terraço. “Claro que a posse foi reintegrada ao seu proprietário em pouco tempo, mas fiquei imaginando como seria legal uma ‘Galeria do Rock’ ou um ‘mercado de pulgas’ no antigo edifício meio art déco do centrão de Guarulhos”, comentou o historiador.
Se o Governo de São Paulo cumprir o projeto que está no papel, muito em breve a região central de Guarulhos pode ficar ainda mais valorizada. Afinal, onde hoje funciona parte do calçadão da Dom Pedro II e o Poli Shopping terá uma estação de Metrô da futura Linha 19-Celeste. É bem pertinho de onde fica o prédio abandonado do Palácio Hotel. Mais uma chance de darem bom uso para esse edifício com seis décadas de história.
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