Um projeto ambicioso, prometido há muito tempo e que tem potencial para melhorar o deslocamento entre as cidades de Santos e Guarujá, no litoral paulista, começou a sair do papel. O Túnel Santos-Guarujá é o primeiro empreendimento rodoviário imerso do Brasil. Será uma ligação mais rápida para carros, caminhões, bicicletas, pedestres e veículos de transporte público. Atualmente, esse trajeto é feito por balsa, mediante pagamento de tarifa, ou então por um percurso rodoviário com cerca de 40 quilômetros de distância.
O governo estadual publicou o edital com as regras do leilão que vai definir a concessionária responsável pela elaboração do projeto executivo e execução das obras de implantação do túnel e dos acessos viários. A empresa vencedora deverá ainda realizar as atividades de manutenção, conservação e operação da infraestrutura pelo prazo de 30 anos.
Parte da remuneração à concessionária, como você deve imaginar, virá pela cobrança de pedágio dos usuários da futura ligação Santos-Guarujá, que terá o sistema free flow. O preço da tarifa será equivalente à tabela seguida atualmente pela balsa, que custa R$ 12,30 para veículos de passeio, já considerando ida e volta. Se o free flow do túnel começasse a funcionar hoje, por exemplo, o preço seria de R$ 6,15 (com meia-tarifa para motos), mas a cobrança acontecerá em ambos os sentidos –ou seja, também R$ 12,30 ida e volta.
Lembrando que esse é o preço atual, mas quando a ligação rodoviária imersa for inaugurada a tabela terá sofrido reajustes anuais, próximos ao índice de inflação do país.
Esse é um projeto visto com toda a atenção por moradores e empresários com negócios na Baixada Santista, mas que desperta interesse também dos paulistas, afinal Santos e Guarujá estão entre os destinos mais frequentados por quem vive na região metropolitana de São Paulo. Por isso, o Guarulhos Todo Dia detalha como vai funcionar o primeiro túnel imerso do Brasil nesta reportagem.

Quando o Túnel Santos-Guarujá será inaugurado?
Bem, aqui nós podemos falar da previsão oficial, que dificilmente costuma ser cumprida, e a outra mais conservadora. Oficialmente, o poder público indica que em 2026 as obras começam e que em 2029 o Túnel Santos-Guarujá estará liberado para uso. No entanto, considerando toda a complexidade estrutural envolvida no projeto, é difícil acreditar que a nova ligação rodoviária ficará à disposição da população antes de 2030.
A obra tem um custo estimado em R$ 6 bilhões, que serão divididos entre Governo do Estado de São Paulo, Governo Federal (por meio do Ministério de Portos e Aeroportos) e a iniciativa privada. Segundo o Palácio do Planalto, essa será a maior obra de infraestrutura do novo Programa de Aceleração do Crescimento (PAC).
O que se tem de certo em relação às datas é que o leilão para definir a concessionária responsável pelo túnel nos próximos 30 anos está marcado para acontecer em 1º de agosto. O contrato com a empresa vencedora deve ser assinado no último trimestre deste ano.

Atualmente, a travessia é feita por balsa, em um percurso que pode demorar 20 minutos ou até duas horas, dependendo do fluxo do momento. Mais de 21 mil veículos cruzam diariamente as duas margens utilizando barcos de pequeno porte (catraias) e as balsas, além de 7,7 mil ciclistas e 7,6 mil pedestres. Outra alternativa é enfrentar 40 km de rodovia –cerca de 10 mil caminhões por dia precisam fazer esse caminho. Considerando a travessia pela balsa e a ligação rodoviária, em média 78 mil pessoas passam todos os dias pela ligação entre Santos e Guarujá.
Com 1,5 km de extensão, sendo 870 metros imersos, o túnel contará com três faixas de rolamento por sentido, incluindo uma exclusiva que poderá ser usada para o Veículo Leve sobre Trilhos (VLT), além de acessos dedicados para pedestres e ciclistas. Quando estiver pronta, a ligação encurtará a distância entre as cidades para menos de 5 minutos de carro. A obra pode beneficiar 5 milhões de moradores da Baixada Santista e do Litoral Norte, além de mais de 4 milhões de turistas que visitam a região.
Por onde vai passar o túnel e como será desapropriação
O túnel vai passar por baixo do canal do Porto de Santos, criando uma conexão entre as regiões de Outeirinhos e Macuco, em Santos, ao bairro Vicente de Carvalho, na cidade do Guarujá. O estudo de mobilidade do projeto concluiu que a localização mais adequada do túnel é no centro do canal.
Em razão da crescente altura dos navios que percorrem e atracam no Porto de Santos, o túnel foi a escolha mais viável para ligar as duas cidades. A opção de engenharia será por um método pré-moldado, com blocos de concreto afundados.

O edital cita que R$ 542 milhões serão destinados para as desapropriações necessárias para a obra. Famílias dos dois municípios serão afetadas, mas a maioria delas vive no Guarujá. Ao todo, cerca de 780 imóveis devem ser desapropriados, sendo 645 ocupações irregulares –nesse caso, os moradores serão reassentados.
O governo estadual diz que oferecerá três opções para as famílias que vivem na região que será afetada pela obra:
- alocação em conjuntos habitacionais;
- compra assistida de imóveis residenciais regulares e disponíveis no mercado imobiliário regiona;
- ou permuta de imóvel com outro núcleo familiar a se manter no bairro a ser desapropriado.
Antes mesmo de a obra começar, o projeto também já altera parte do funcionamento do Porto de Santos. Nesta segunda (3), foram iniciadas sondagens no fundo do estuário. “Devido à ação, a navegação será suspensa temporariamente no lugar do canal do Porto de Santos onde irá passar o Túnel. Das 6h00 às 16h00, estará interditada para as embarcações o trecho entre o terminal da Citrosuco e o terminal de cruzeiros”, comunicou a Autoridade Portuária, que diz ter sido comunicada a respeito há cerca de um mês e indicou o período que menos afetaria a entrada e saída de navios.
Como será a obra do Túnel Santos-Guarujá
A profundidade do túnel será de 21 metros. A estrutura será composta por seis módulos de concreto pré-moldados que serão construídos em uma doca seca. Em seguida, os módulos serão “mergulhados” na água para o teste de vedação e impermeabilidade. Depois de prontas, as partes serão transportadas por flutuação até o local onde o túnel será instalado no fundo do leito oceânico.
Por fim, uma camada de pedras é utilizada para recobrir e proteger o túnel contra impactos de embarcações e o enganchamento de âncoras soltas. Atualmente, o calado (parte submersa) dos navios que passam pelo porto tem 15 metros.
O governo paulista divulgou um vídeo interessante, mostrando como funcionará parte desse processo. Assista abaixo: