O Banco Central reduziu a taxa de juros básica da economia para 10,5%. E o que isso tem a ver com a sua vida? Depende. Se você tem alguma sobra de dinheiro no final do mês, provavelmente já deve estar lendo os conselhos que aparecem nas publicações de economia e finanças pessoais, sobre onde é melhor investir depois da decisão do BC. Mas se, como a maioria dos brasileiros, você tem “mês sobrando no fim do salário”, os juros ainda estão trabalhando contra você. E o melhor investimento que existe, nesse caso, é fazer a grande virada, para que os juros passem a trabalhar a seu favor. Ou seja, você precisa quitar suas dívidas.
Se você usa o limite do cheque especial para completar a renda ou deixa de pagar uma parte do valor da fatura do cartão de crédito para poder ter algum dinheiro disponível, não há motivo para dúvida. O melhor investimento em casos assim é sempre pagar o máximo que puder de dívidas. E aí, sei que você deve estar perguntando: mas como vou fazer isso, se não tenho dinheiro? A resposta para isso é desagradável, mas tem que ser dita: cortando gastos e fazendo sacrifícios por algum tempo.
Investir na quitação das dívidas
Para mostrar como os juros trabalham com mais força quando é contra você, vamos checar quais são as taxas que você paga com frequência. É a parte chata, dos números, mas se tiver paciência, você vai entender porque o melhor investimento que você tem a fazer é na virada para colocar os juros para trabalharem a seu favor.
Por exemplo, você fez várias compras com cartão de crédito e chegou uma fatura de R$ 1.000,00 para pagar. Você não tem esse dinheiro e pagou só R$ 600,00. Ficaram R$ 400,00 para o mês seguinte. Você caiu no perigoso crédito rotativo do cartão. Sim, na prática, você fez um empréstimo. E o tipo de empréstimo que cobra as taxas de juros mais altas. Segundo a pesquisa do Banco Central, essas taxas, no final de abril, estavam entre 1,54% (raríssima) e 23,20%.
Pegando um percentual no meio dessa tabela, de 15,81%, só para exemplo. Se você tiver dinheiro para quitar esse valor no mês seguinte, vai gastar R$ 463,24. Não deu pra quitar esse mês e vai tentar pagar no próximo? Então, a dívida já vai passar para R$ 536,48. Ficou muito caro e vai deixar pra pagar com a primeira parcela do 13°, em novembro? Entre maio e novembro são sete meses e sua dívida vai estar em R$ 1.117,59. É assim que os juros trabalham contra você.
Se livrando do peso dos juros
A primeira providência a tomar em um caso desses é tentar troca as dívidas mais caras por outras mais baratas. O crédito rotativo do cartão, que usamos como exemplo, é a dívida mais cara de todas. A mais barata disponível no mercado é o crédito consignado. Segundo a pesquisa do Banco Central, no final de julho as taxas no consignado de bancos privados (acessível a mais pessoas), estavam entre 0,94% e 5,62% ao mês. No meio da tabela, em torno de 2,62%. E se você for servidor público ou beneficiário do INSS (aposentado ou pensionistas) vai encontrar taxas ainda menores.
Então, se você financiar aqueles mesmos R$ 400,00 do nosso exemplo acima, pela taxa do meio da tabela (2,62%), em dois meses você vai pagar R$ 421,23. E quanto maior o prazo que você parcelar, maior a diferença em relação a pagar as taxas do rotativo do cartão de crédito. Esse é o impacto dos juros altos no seu orçamento.
Escolhas de vida
A questão é que você ainda estará na fase dos juros trabalhando contra você. Mas isso não tem jeito, enquanto você não pagar suas dívidas. E para conseguir quitar tudo, mesmo com juros menores, você tem que adotar a medida mais importante, que é a verdadeira virada de chave na sua vida: cortar gastos, para seu orçamento caber na sua renda. É um momento que vai exigir que você faça escolhas.
Ninguém melhor que você para decidir do que abrir mão por um tempo, até estabilizar suas contas. Eliminar a “balada” em uma das sextas-feiras do mês pode parecer uma escolha óbvia para quem olha de fora, mas esse pode ser um momento essencial na sua vida. Reduzir os gastos com café? Levar marmita para economizar o vale alimentação? Deixar o carro em casa e perder mais tempo do dia no caminho para o trabalho? Cada escolha tem suas consequências, que só você pode avaliar. Mas são pequenos sacrifícios que podem ser muito importantes para mudar sua vida.
A virada dos juros a seu favor
Mas vamos considerar que você fez os seus cortes de gastos no orçamento e conseguiu reduzir os juros das suas dívidas. Vai dar a impressão de que nunca vai chegar, mas em algum momento você vai quitar tudo. E aí, sabe esse dinheiro que você separava todo mês pra pagar as parcelas da dívida? Se você mantiver os novos hábitos de gastos, ele vai “sobrar”. E é disso que você precisa para colocar os juros para trabalharem a seu favor. Você pode investir esse dinheiro todo mês.
Não vamos entrar aqui na discussão de qual é o melhor investimento. Há uma série de opções no mercado financeiro, mesmo para quem tem bem pouco dinheiro para investir. Desde a velha e conhecida caderneta de poupança, até fundos de investimento, títulos do governo e até ações de empresas. Tudo está acessível, mesmo para quem tem pouco, através de aplicativos de bancos ou corretoras.
Só para exemplificar, você pode investir em um título do Tesouro Direto que corrige seu dinheiro pela inflação (ele não desvaloriza) e paga mais uma taxa de juros. No dia em que estou escrevendo esse texto (17/05/24), o título chamado IPCA+2029 está pagando a inflação (IPCA), mais 6,05% ao ano. Se você começasse a investir hoje nesse título, pelo menos valor possível (R$ 31,93) e todo mês colocasse esse mesmo valor no investimento, até 2029, tem ideia de quanto você receberia no dia 15 de maio de 2029? Eu te conto: R$ 2.351,16, já descontados impostos e taxas.
Se você quiser fazer suas próprias simulações de investimento, o site do Tesouro Direto oferece uma calculadora bem fácil de usar. Nós ainda vamos falar mais sobre esse tipo de investimento e explicar a diferença entre os títulos e qual é o mais indicado para seus objetivos. Mas se quiser experimentar, você pode acessar aqui o simulador do Tesouro Direto.
Se você está muito atento, deve ter percebido de que estamos falando de taxas de juros de 15,81% ao mês ou mais ao mês na hora em que os juros estão trabalhando contra você (dívidas) e de taxas de 6,05% ao ano quando eles trabalham a seu favor. É, parece injusto e é mesmo. Mas é assim que o mercado funciona. De qualquer forma, ter o dinheiro crescendo mensalmente a seu favor, mesmo que em passos lentos, é bem melhor do que ver sua dívida galopando rapidamente a favor do banco, não?
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